Em pleno século XXI, uma grande parte da população mundial continua sem ter acesso condigno a água potável e a saneamento.
Muitos afirmam que, no decurso deste século, o acesso e controlo de fontes de água poderá ser motivo de guerras e conflitos em várias regiões do globo. A grande maioria das multinacionais que atuam à escala global identifica o acesso à água e a sua escassez, como fatores críticos para a evolução futura da sua atividade, e para a tomada de decisões de investimento.
Assim, parece inequívoca a importância e a valorização deste recurso, essencial para a nossa sobrevivência. Mas será que é mesmo assim? O valor da Água, enquanto recurso, e do setor, enquanto atividade industrial, não são adequadamente percecionados pela generalidade da sociedade civil. Essa circunstância reflete-se, de forma clara, no modo como a água continua, muitas vezes, a ser desperdiçada ou, também, nas constantes críticas ao “preço” da água. Na verdade, e apesar da água ser a única coisa sem a qual não podemos viver, dos vários serviços que utilizamos em nossa casa, é habitualmente aquele que os cidadãos mais “regateiam”. Isto apesar de, na maioria das vezes, ser aquele que representa o menor encargo no orçamento familiar, quando comparado com outros serviços, como sejam as telecomunicações, serviços pagos de televisão, eletricidade ou gás.
Esta situação faz com que, frequentemente, as discussões no âmbito do setor, e no espectro político, “afunilem” para a questão das tarifas, simplesmente porque as pessoas não têm uma perspetiva real sobre a importância deste recurso na sua vida (exceto quando falta na torneira…).
Estaremos, porventura, a ser “vítimas” do nosso próprio “sucesso”, ou seja, a notável evolução que se registou nas últimas décadas nos serviços de águas fez com que a generalidade das pessoas passasse a dar como adquirido um serviço de qualidade, sem qualquer interrupção, mas sem se questionar sobre o que é necessário para assegurar esses níveis de serviço.
O passado recente fala por si… Três dos últimos cinco anos hidrológicos no Algarve foram anos secos. Apesar das situações de seca, e até à presente data, não se verificaram constrangimentos no abastecimento público de água na região. No entanto, a situação atual exige novas estratégias de Gestão Integrada de Recursos Hídricos para a garantia do abastecimento público de água à região do Algarve, a implementar no curto, médio e longo prazo. Também o despacho nº 443/2020, de 14 de janeiro, assinado pelo Ministro do Ambiente e da Ação Climática, a Ministra da Agricultura e pela Secretária de Estado do Turismo, determinou a elaboração das bases do Plano Regional de Eficiência Hídrica do Algarve.
“A seca hidrológica na região do Algarve assume hoje um caráter estrutural com tendência de agravamento devido ao efeito expectável das alterações climáticas. A mudança de paradigma na utilização do recurso água impõe-se face à evidência da insuficiente eficácia das medidas até agora adotadas, sendo necessário, por isso, repensar e encontrar novos caminhos em estreita articulação entre a administração, os utilizadores e a comunidade científica”.
O movimento de sensibilização para a importância de se integrar o uso eficiente e racional de água de forma permanente é, cada vez mais, uma causa nacional, e planetária uma vez que a escassez de água é uma realidade inevitável para a qual população deve estar cada vez mais desperta, designadamente no contexto das alterações climáticas.
Com esta Campanha pretendemos dar um contributo para a criação de uma maior consciência coletiva relativamente ao valor da água e ao imperativo da mudança de comportamentos, junto dos principais utilizadores e da população para o uso parcimonioso da água. A melhoria da eficiência hídrica é um imperativo dado que a água é um recurso limitado que é necessário proteger, conservar e gerir para garantir a sustentabilidade dos ecossistemas e dos serviços que estes proporcionam à sociedade em geral e para garantir a sustentabilidade de outros recursos intrinsecamente associados.
A região algarvia poderá enfrentar uma grave situação de stress hídrico já nos próximos anos e só uma real mudança nos nossos hábitos enquanto consumidores pode travar esta realidade, e a Águas do Algarve é parte interessada no processo, bem como um parceiro fundamental na região, na construção de novas mentalidades ajustadas para a o uso eficiente dos recursos hídricos e do ambiente em geral.
Por um Futuro com Água, use apenas a necessária.