“PODERÁ A BICICLETA SUBSTITUIR O AUTOMÓVEL? EVOLUIR REGREDINDO…
Numa era em que a diversidade tecnológica impera, não é preciso ter um grau académico diferenciado para perceber que a bicicleta já teve o seu tempo de glória como veículo utilitário. Não obstante, o rigor destas palavras é, e será, sempre subjectivo. A subjectividade resulta aqui da capacidade céptica de que todos deveriam dispor de, em determinadas situações, não abraçar a realidade como ela se apresenta. Sabemos que, num mundo povoado por automóveis, não é tarefa fácil a bicicleta substituí-lo, ainda que seja uma alternativa válida em determinados locais. Verifica-se que vários factores dificultam a sua utilização. Não só o comodismo impera como máxima em ascensão, como a cada dia que passa, a cidade se torna mais obscura para o seu uso. Todavia, numa sociedade em que as teorias estão constantemente a ser reavaliadas, é bem possível que, pelo menos, dentro das localidades, a bicicleta venha a conquistar espaço ao automóvel. Os “sinais” de que esta poderá ser uma realidade, passa apenas por percebermos que a cidade está saturada de tantos veículos motorizados. Consequências resultantes desse sobrelotamento não são difíceis de encontrar. Ecologistas, profissionais da saúde e do desporto, economistas, engenheiros, autarcas, polícias, entre outros, não teriam aqui espaço suficiente para explanar essa saturação. Pouco a pouco, acumulam-se indícios de que a situação irá, a curto prazo, tornar-se caótica. E quando a “poeira assentar” os mais cépticos, ainda que possam achar bizarro, irão constatar que a utilização da bicicleta não é sinónimo de regressão mas sim de evolução.
A questão aqui é conseguir preparar o futuro de modo a que essa transição se faça de modo gradual (favorecer a mutação da cidade). O primeiro passo consiste em tentar perceber o que dificulta a reascensão da bicicleta. Vários são os motivos. Se a sua aquisição parece estar facilitada pela enorme oferta a baixo preço nas grandes superfícies comerciais, os problemas colocam-se então a outro nível. A acomodação/estacionamento da mesma é, sem sombra de dúvida, o primeiro obstáculo. Mais do que aparentemente, é um problema generalizado. Aceitemos a palavra estacionar como algo abrangente que vai desde o arrumar em casa até fixá-la no local de chegada. Onde estacionar? Os dados actuais apontam fortemente para uma grande dificuldade em fazê-lo com segurança e tranquilidade. Numa organização urbanística em que o crescimento vertical é muito superior à expansão horizontal, conclui-se que é tarefa dolorosa o seu transporte para casa. Não obstante, não é só na partida que se coloca este problema. Também na chegada há dificuldades. Raros são os locais em que uma armação metálica aguarda por uma bicicleta. Árvores, postes, entre outros, jamais serão solução. A própria deslocação/viagem, num meio sobrelotado de automóveis, poderá revelar-se hostil. Desde há anos que se fala em ciclo vias. Delírios que representariam segurança na deslocação. Talvez estejam para breve. Mas não fiquemos por aqui. Se os passeios de automóvel foram uma das principais formas de diversão e lazer nos finais do século dezanove, veja-se que hoje esse automóvel parece ser paulatinamente substituído pela bicicleta para o mesmo fim.
Nesse sentido, reforçar, incentivar e promover a prática de lazer irá contribuir para uma maior prática utilitária. A quem compete tal imperativo? Não só, mas também aos nossos governantes.
Se não há dúvidas quanto ao benefício da utilização da bicicleta na vida quotidiana, então porque não valorizar a aquisição destes veículos? Como? Por exemplo podendo deduzir a sua despesa de aquisição na declaração de rendimentos – IRS.
Para evoluir é necessário olhar para trás e aproveitar o que de bom o passado teve. Talvez o espírito crítico do homem leve a pôr em causa toda esta situação e a exigir o regresso à pureza do primitivo. Estará assim aberto o caminho para o triunfo da bicicleta”.
Embora tal opinião tivesse sido produzida no ano 2006, renovamos hoje, na íntegra, tudo aquilo que dissemos na altura, acrescentando que é com satisfação que finalmente começamos a assistir à criação de condições para que a transição aconteça.