Em números anteriores procurámos evidenciar que as artes visuais podem ser usadas como forma de consciencializar as populações e de contribuir para que as pessoas adotem comportamentos mais adequados em relação ao ambiente.
Nomeadamente, nos artigos “Pode a arte ajudar a proteger o ambiente?” e “Pode a arte ajudar a proteger os oceanos?”, alertámos para o problema da poluição atmosférica e do plástico nos oceanos e para a importância da descarbonização e da prevenção através de comportamentos mais adequados, enquadrados numa economia circular, assente nos 3R: Reduza, Reutilize e Recicle!
Por outro lado, no artigo “Pode a arte contribuir para a paz?”, procurámos destacar que a arte pode ser um importante instrumento no sentido duma educação para a paz e para princípios éticos universais e valores humanistas, como sejam a honestidade e o respeito pelos outros.
Desta forma, a arte pode contribuir para atitudes mais favoráveis em relação ao ambiente e em relação às outras pessoas.
Mas a arte também pode contribuir para o desenvolvimento de atitudes mais favoráveis do sujeito em relação a si próprio, sensibilizando-o para estilos de vida mais saudáveis.
A este nível, o não fumar ou deixar de fumar é dos aspetos mais importantes. O cancro do pulmão é o que mais mortes provoca e o fumar é a principal causa deste tipo de cancro.
Como forma de sensibilizar a população para a importância de deixar de fumar, para além da promoção de estilos de vida mais saudáveis e de um ambiente mais limpo, o Município de Castro Marim inaugurou, no passado dia 26 de setembro, “Dia Europeu do Ex-Fumador”, a escultura “Eco Pulmão”, colocada na Praça 1º de maio. Da autoria de Carlos Correia, esta escultura de 1,6m em ferro permite a deposição de beatas nos “pulmões” da figura. Aliás, por baixo da mesma encontra-se uma legenda em que está escrito o seguinte: “Enquanto não toma a decisão mais importante da sua vida – DEIXAR DE FUMAR, coloque aqui as suas beatas.”
Indo a publicação deste nº do Cultura.Sul coincidir com a “Dia Mundial do Não Fumador”, a 17 de novembro, aproveitamos para apresentar a fotografia “Stresse na sociedade”, que tirámos em 1986, encontrando-se publicada no livro “Expressividade” (Bastos & Jesus, 2001) e tendo sido premiada com uma Menção Honrosa no “1º Salão Virtual de Arte Contemporânea” (2013), realizado no Brasil. Nesta fotografia, o comportamento de fumar aparece ainda como algo automático ou reativo em situações de stresse social, num sujeito anónimo ou não identificado, que se mascara ou esconde atrás desse comportamento.
Num outro trabalho artístico também procurámos sensibilizar para os riscos do stresse na vida das pessoas e para a importância de estilos de vida mais saudáveis. Trata-se da escultura “Stresse – Peso das exigências” (2010). Esta escultura de 2m de altura, em que foram utilizados os materiais alumínio e terracota, procura sintetizar o conceito de stresse, em termos dos principais fatores e sintomas que podem ocorrer. O coração está “rasgado” por correntes que pressionam em vários sentidos, representando as exigências ou os fatores de stresse que podem ser externos e internos. As pressões internas, sobretudo devido a conflitos internos face a decisões que têm que ser tomadas, ou a indecisões derivadas da multiplicidade de alternativas possíveis hoje em dia, ou a uma excessiva ambição pessoal, ou ainda a expectativas irrealistas por parte do sujeito, traduzem que o próprio sujeito pode ser o principal fator do stresse que apresenta e encontram-se representadas pelas correntes puxadas para lados diferentes destruindo o coração.
No que diz respeito às pressões externas, estão representadas através de um peso pendurado no coração, que é um coração invertido, significando e sintetizando todas as exigências externas que podem prejudicar a saúde do sujeito, em particular o coração. Além disso, o facto deste coração ser em metal significa o ambiente frio e distante em que o sujeito se encontra, representando a falta de suporte social e emocional, o que aumenta o impacto negativo das exigências exteriores sobre o sujeito. A imagem desta escultura foi utilizada para o cartaz do “34th World STAR Conference” (34º Congresso Mundial de Stresse”), realizado na UAlg em 2013.
Assim, para além de poder contribuir para comportamentos mais adequados em relação ao ambiente e em relação aos outros, a arte também pode contribuir para comportamentos mais adequados em relação a si próprio, nomeadamente através da adoção de estilos de vida mais saudáveis.