A covid-19 impulsionou a The Summer Berry, empresa de exportação de frutos vermelhos sediada em Odemira, a olhar em redor e a repensar a estratégia de mercado, aliando o aumento do volume de negócios ao pensamento social.
O impacto da pandemia atingiu em cheio os mais diversos setores de negócio em Portugal, mas, contrariando a generalizada tendência nacional, a The Summer Berry terminou 2020 com uma faturação de 20 milhões de euros, tornando-se ela própria um exemplo de capacidade de superação de um setor que foi “o mais resiliente da economia”.
“O objetivo eram 22 milhões de euros”, mas as receitas representam, ainda assim, um crescimento de 20% em relação aos 16,5 milhões de euros faturados em 2019, revelou à agência Lusa o diretor-geral, Nuno Pereira.
E a empresa que há quatro anos se instalou no Almograve mantém inalterados os seus planos de crescimento, estando já a preparar-se para acrescentar 90 hectares de estufas aos 130 existentes.
Um crescimento que foi possível manter apesar de, nas primeiras semanas da pandemia, as vendas terem ficado “muito aquém” das previsões e os custos logísticos de exportação dos frutos vermelhos produzidos terem sofrido um aumento imediato de 30%, porque os transportadores “perderam eficiência” e a empresa teve de passar a suportar a ida e a volta dos camiões.
A redução não foi imediata e só agora os custos de transporte estão a voltar à normalidade, mas a empresa também encontrou uma forma de os mitigar, aproveitando as viagens de exportação para trazer as plantas que habitualmente importava noutras alturas do ano.
“O que fizemos para ajudar, quer a operação do transportador, quer o nosso custo logístico, foi em cada carga de fruta que saía daqui para exportação, tentarmos trazer alguma coisa do mercado de destino antecipadamente, para que os camiões viessem compostos ou cheios sempre que possível”, explicou o engenheiro à agência Lusa.
Diz o ditado que ‘a necessidade aguça o engenho’ e, perante uma maior dificuldade logística para escoar a sua produção, a produtora de frutos vermelhos voltou-se para a comunidade, repartindo cabazes dos pequenos frutos (e doce feito dos mesmos) pelos profissionais de saúde, bombeiros, lares de idosos, centros de saúde, escolas e associações locais, e também para o mercado nacional, com uma parceria bem-sucedida com outra empresa de fornecimento de produtos agrícolas durante o confinamento.
“A pandemia alertou-nos para um conjunto de coisas muito significativas e a questão da diversificação é uma das mais importantes. De facto, estamos a olhar para o mercado nacional e ibérico de maneira diferente”, assumiu Nuno Pereira.
Uma das apostas da empresa no futuro próximo será, por isso, ter “uma operação mais direcionada ao mercado nacional e abastecer o retalho português” com as suas frutas, uma vez que, antes da pandemia, a The Summer Berry exportava a totalidade da sua produção.
Mas o esforço e o resultado positivo conseguidos pela The Summer Berry só foram possíveis devido às características únicas do setor agrícola português, que Nuno Pereira garante ser um dos mais bem apetrechados, especialmente no sudoeste alentejano.
Para o engenheiro, “vai ser difícil os portugueses não reconhecerem o esforço” da agricultura na pandemia e esse foi “o aspeto mais positivo” que a covid-19 trouxe ao setor.
“Viemos para as notícias pelas melhores razões. Porque fomos os mais resilientes da economia, que nunca pararam, que inclusivamente absorveram mão de obra de outros setores que pararam a partir de março e, portanto, começámos a aparecer nos telejornais e nos jornais numa perspetiva muito positiva”, analisou, junto à operação de colheita de framboesas.
“Numa perspetiva de que estamos a ajudar a economia, de que nunca parámos, de que nunca faltou fruta e legumes nas prateleiras dos supermercados portugueses. Fazendo o saldo, esse foi o grande aspeto positivo que esta pandemia nos trouxe”, concluiu o engenheiro responsável pela produção da empresa.
A The Summer Berry Company é uma empresa registada no Reino Unido que se instalou há quatro anos no concelho de Odemira, pelas condições excecionais da região para a produção de mirtilos, amoras e framboesas.
Emprega em permanência cerca de 300 trabalhadores que residem nas suas instalações, no Almograve, onde consegue produzir framboesas em todos os meses do ano, ao contrário do que acontece nas suas estufas no Reino Unido.