A Ordem dos Médicos e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina defenderam hoje a redução das vagas nas faculdades para garantir a formação com qualidade e evitar que haja profissionais sem lugar nas especialidades.
“Sendo a nossa capacidade formativa de 1.500 a 1.600 médicos [por ano], não devem ser ultrapassadas essas vagas. Actualmente há cerca de 1.800 alunos formados por ano”, disse à Lusa presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos.
Para Miguel Guimarães, o ‘numerus clausus’ em medicina “tem de ser adaptado às capacidades formativas dos serviços hospitalares para formar especialistas”.
O responsável apontou esta redução de vagas nas faculdades de medicina como solução para a falta de capacidade do sistema em formar médicos especialistas depois de os clínicos cumprirem o seu “ano comum”, uma espécie de estágio pré-especialidade em que percorrem diversas áreas, sob supervisão.
Este ano, e ao contrário dos últimos anos, o concurso que abriu no dia 23 de Novembro tem mais cerca de 150 médicos candidatos a especialidade do que vagas, o que fará com que este grupo de clínicos fique de fora e impossibilitado de concluir, pelo menos no ensino em Portugal, o seu percurso académico.
“São médicos com autonomia, mas sem especialidade. São indiferenciados”, explicou Miguel Guimarães, para quem estes profissionais “não oferecem a qualidade que deveriam ter”, o que causará “problemas não só à população, mas também aos médicos que ficam parados a meio do percurso”.
Médicos ficam parados a meio do percurso
Estes médicos sem especialidade “podem exercer medicina geral e trabalhar em serviços de urgência”, que podem “ressentir-se [pela] pouca experiência dos médicos”, alertou.
Para além disso, “correm o risco de ser explorados não só pelo Serviço Nacional de Saúde, mas também pelos grandes hospitais”, tudo isto uma “situação que a Ordem dos Médicos não quer”.
Também para a Associação Nacional de Estudantes de Medicina esta é uma questão “ainda mais grave” do que a que está a envolver todo o processo de candidatura à especialidade e após o qual “será a primeira vez que Portugal terá uma geração de médicos indiferenciados”.
“Os profissionais não terão a qualidade necessária para prestar cuidados de saúde de topo. Ficarão a trabalhar como tarefeiros, a fazer trabalho indiferenciado, o que levará a alguma precariedade”, alertou Alberto Abreu da Silva.
Para o responsável, era necessário “fazer uma adequação dos estudantes de medicina nas escolas médicas” e reduzir o ‘numerus clausus” para “promover a formação contínua do médico” sem deixar ninguém de fora,
“Estamos a preparar uma proposta para enviar ao governo nesse sentido”, adiantou.
Para o Sindicato dos Médicos Independentes ainda não é, contudo, tempo para falar em médicos sem especialidade uma vez que o prazo só termina no final da semana e só então será possível avaliar se alguém ficou de fora.
Ainda assim, defendem o aumento “das capacidades formativas no Serviço Nacional de Saúde” em Portugal já no próximo ano, destacou o secretário-geral Jorge Roque da Cunha.
Nesse sentido, está já a ser preparado um grupo de trabalho que irá solicitar “que haja mais médicos que sejam orientadores de formação” e que se corrijam os erros nas unidades de saúde não consideradas idóneas para o efeito, criando assim mais vagas.
(Agência Lusa)