A origem da tragédia de Portugal está numa governação sem rumo nem estratégia, apoiada na satisfação de exigências que todos os anos acrescentam défice à gigantesca montanha de dívida pública e externa.
A origem da tragédia, portuguesa, não está na alegada incapacidade da oposição para governar. Todas as vezes que o governo treme, o argumento do caos nos partidos de centro e direita vem à baila, mas o problema do país não é esse.
O problema de Portugal está na visível satisfação com que o ministro das Finanças anunciou aumentos salariais para a função pública, na conferência de imprensa de apresentação do orçamento do Estado para 2022. Os olhos de João Leão brilhavam quando anunciou que os aumentos salariais nominais de 0,9 por cento correspondiam de facto a aumentos médios de 2,5 por cento por causa do sistema de promoções e de progressões nas carreiras descongeladas logo no início da governação da geringonça. O sorriso de João Leão alargava-se quando o ministro acentuava que o verdadeiro aumento da massa salarial vai ser de 3,1 por cento. Um aumento brutal de despesa pública permanente, estrutural, quando acabamos de somar mais de 40 mil milhões de euros à dívida pública em apenas dois anos.
O problema do país está no discurso errático de uma ministra da Administração Pública que começou por dizer que não havia margem para aumentos nominais de salários, que logo a seguir disse que havia margem para aumentos de 0,9 por cento nominais mas não podia ir além desta linha vermelha, mas que acabou a dizer que as negociações não estão encerradas e afinal há margem para mais aumentos.
O problema da governação do país está na abertura de alçapões orçamentais que, da noite para o dia, apagam quase dois mil milhões de euros de dívida da CP e dão mais dois mil milhões de euros à TAP sem discussão pública, sem transparência, sem a publicação de uma única linha de um plano estratégico para estas empresas.
Ao contrário do que diz o Presidente da Republica, o problema do país não está no chumbo de um mau orçamento e de uma governação errática, sem estratégia e sob chantagem dos partidos que têm o poder parlamentar de o viabilizar ou fazer cair o governo.
Marcelo Rebelo de Sousa está enganado em relação ao eventual prejuízo de uma crise política para o país. O prejuízo maior não é esse. O prejuízo maior é, para o orçamento ser aprovado, o governo andar de cedência em cedência a distribuir riqueza que não é criada em Portugal, vem de fora sob a forma de mais dívida pública e externa.
O problema maior do país é o Presidente da República não perceber que não podemos continuar a aceitar uma governação sem um plano estratégico para Portugal, sem reganhar competitividade, sem aumentar as exportações e sem produzir mais e melhor para substituir importações.
O problema maior do país é a nossa elite política não perceber que não se pode distribuir riqueza que não produzimos, que não se pode dar sustentabilidade à economia só com procura interna e sem olhar para as empresas exportadoras e o mercado mundial.
É essa a origem da tragédia nacional.
Pelos vistos, Marcelo Rebelo de Sousa só perceberá a origem da tragédia nacional quando os homens da mala preta começarem a aparecer na sala de chegadas do aeroporto da Portela.
Já faltou mais…