Confirma-se o pior receio: o SARS-Cov-2 tem uma variante super transmissível e já está instalada entre nós e a propagar-se velozmente na comunidade. Capaz de duplicação em dois ou três dias, a Ómicron vai aumentar a sua presença dos 10% estimados pelo Instituto Ricardo Jorge (INSA) nesta quarta-feira, para 20% a 30% no próximo fim de semana. A previsão é feita pelo matemático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto Óscar Felgueiras.
“É perfeitamente possível que se chegue ao fim de semana com uma prevalência de 20% a 30% da Ómicron e este era o pior momento para acontecer. Vai tornar-se dominante no Natal, com muitos convívios, e vai aumentar muito, muito”, explica o perito do grupo encarregue que tem aconselhado o Governo na luta contra a pandemia.
Óscar Felgueiras, matemático, alerta: “Vamos ter uma transmissão brutal e o recorde de novos casos deverá ser batido por esta variante.” No Reino Unido, país mais afetado logo depois da África do Sul, há já um pico inédito. Na quarta-feira foram confirmadas 78.600 novas infeções, cifra nunca vista.
“PRÓXIMOS TRÊS A QUATRO DIAS VÃO SER DECISIVOS”
Ao Expresso, a responsável pelas orientações estratégicas, Raquel Duarte, é perentória: “Os próximos três a quatro dias vão ser decisivos para percebermos o impacto da nova variante e qual deverá ser a resposta, proporcional. Propaga-se tão rápido que iremos ver já o seu efeito.” A pneumologista e investigadora do Instituto de Saúde Pública do Porto reconhece que o momento é mau. “Temos uma variante que se transmite de forma muito rápida numa altura em que as pessoas vão estar mais juntas e com menor proteção, pelo menos sem máscara, e vamos assistir a um aumento dos casos a partir de um planalto, elevado.” Mas, mesmo assim, não estaremos à mercê do vírus.
Raquel Duarte sublinha que “conhecemos muito bem as ferramentas para quebrar a cadeia de transmissão e devemos utilizá-las em múltiplas camadas”. A saber: “Estarmos vacinados, utilizar máscara, adotar as restantes medidas de proteção, evitar os almoços e jantares de Natal e fazer teste para estar fora da bolha de segurança. Estas medidas têm de estar todas em cima da mesa.”
“O resto vai depender dos próximos dias, sobretudo para vermos a evolução na doença grave e na mortalidade. Mesmo sabendo que o risco pode ser menor, pelo efeito da vacina, se tivermos um número muito grande de casos vamos ter também um aumento de casos graves e de mortes”, acrescenta a médica. A severidade da nova variante ainda é uma incógnita.
“O crescimento da variante foi muito rápido e ainda não se podem tirar conclusões. No entanto, a ideia que existe é a de que as consequências são proporcionalmente menores do que nas outras variantes, sobretudo na doença grave e na morte”, diz Óscar Felgueiras. “No nosso país, a maioria dos infetados vão ser pessoas vacinadas, que estão protegidas contra as formas severas. A vacina é um escudo protetor e, à partida, funcionará.” O investigador adianta ainda que “a infeção numa pessoa não vacinada não tem ainda um prognóstico claro, ou seja, não se sabe se haverá muita diferença face a quem foi vacinado”.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL