As barragens do Algarve contêm aproximadamente mais 50% de água do que em igual período do ano anterior e Teresa Fernandes, porta-voz da Águas do Algarve (AdA), garante que não há razões para alarmismo na região. “Temos água para consumo humano que dá para este e para o próximo ano. A água não é muita mas é o suficiente para satisfazer as necessidades da região”, disse ao POSTAL.
Odeleite e Beliche fazem a diferença no que respeita à disponibilidade de água este ano, com mais 34,62% e 31, 28% de volume útil, respectivamente, em comparação com o ano anterior, resultado de uma situação de precipitação elevada que ocorreu na zona de Odeleite e permitiu encher estas duas barragens através do sistema de aproveitamento hidráulico da barragem de Odeleite, que permite enviar água para Beliche.
De acordo com os dados mais recentes disponibilizados pela AdA, até 3 de Novembro as barragens de Odelouca, Odeleite e Beliche, encontravam-se com volumes úteis de 23,59%, 64,18% e 54,46%, respectivamente. Uma diferença global aproximada de 50% mais do que em 2016, quando as barragens continham 29,45% (Odelouca), 29,56% (Odeleite) e 26,18% (Beliche).
O Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Águas do Algarve dispõe ainda de uma estação elevatória reversível entre os reservatórios de Pinhal de Vilamoura e Quarteira que permite, em caso de necessidade, transferir água de sotavento para barlavento e vice-versa, garantindo a capacidade de gerir de forma equilibrada a disponibilidade de água para consumo humano.
Outubro foi o mês mais quente dos últimos 87 anos e o mais seco dos últimos 20 anos
Apesar desta realidade na região algarvia, o passado mês de Outubro revelou-se o mais quente dos últimos 87 anos e o mais seco dos últimos 20 anos no país. Os dados são do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que publicou recentemente o resumo climático do mês passado, segundo o qual “a conjugação da persistência de valores de precipitação muito inferiores ao normal e de valores de temperatura muito acima do normal, teve como consequência a ocorrência de valores altos de evapotranspiração e valores significativos de défice de humidade do solo”.
De acordo com o índice meteorológico de seca – PDSI, que analisa a severidade da seca tendo em conta a precipitação, temperatura e água no solo, no final do mês de Outubro todo o território de Portugal continental se encontrava em seca, sendo severa em 24.8 % e extrema em 75.2 %. Apesar da precipitação muito insuficiente que ocorreu recentemente na região, a chuva regressa, segundo o IPMA, já a partir de sexta-feira da próxima semana, 24 de Novembro.
Falta de pasto influencia a alimentação, o leite, a saúde e o bem-estar animal
Apesar das previsões, na região algarvia começa a faltar o pasto para os animais, situação que o pastor José Aníbal acredita ser resultado do mal que o Homem tem feito à “amiga natureza”. Começa a faltar erva para as 200 cabeças de gado e José Aníbal já sente dificuldades em manter os animais.
Michael Neto, também pastor, acredita que a solução passa por mudar a política e educar as pessoas para uma boa utilização da água, “é necessário adaptar os recursos disponíveis a cada região e se não houver uma boa política os nossos recursos vão acabar”.
Com cerca de 300 animais, Michael Neto também já sente os efeitos da seca e revela ao POSTAL que já gastou mais uns milhares de euros do que o normal. A falta de pasto influencia a vários níveis a alimentação, o leite, a saúde e o bem-estar animal. “É necessário fazer o transporte de água e garantir o suplemento alimentar para que os animais não morram”, salientou. “Hoje os animais pastam em sítios que em outros anos era impossível porque havia muita água. 1992 e 2001 já foram anos muito secos, mas de ano para ano as coisas vão ficando mais graves. Os ciclos de seca são cada vez mais severos e chegam de forma cada vez mais agressiva”.
No que respeita à agricultura, a DRAP Algarve está a ajudar os agricultores através de uma intervenção que se enquadra nas medidas implementadas pelo Governo a nível nacional para fazer frente a esta situação. “A intervenção desenvolve-se em duas frentes: na monitorização da situação da região, no que respeita à disponibilidade de água nos solos, e na informação e sensibilização para os programas de apoio e respectivas verbas disponibilizadas pelo Estado para minorar os efeitos da seca”, disse ao POSTAL Fernando Severino, director regional de Agricultura e Pescas e do Algarve.
São Brás já colocou em prática o programa de sustentabilidade ambiental
O município de São Brás de Alportel também quer sensibilizar a população para a necessidade de poupança de água e já colocou em prática um programa de sustentabilidade ambiental que Vítor Guerreiro, presidente da autarquia, acredita ser fundamental para o Algarve e para o país “porque as reservas de água não são infinitas e cabe aos cidadãos proteger este recurso natural”.
O programa consiste em diminuir as zonas de relva no concelho, substituindo-as por plantas autóctones e outras soluções que não necessitam de tanta rega. Na frota de transportes do concelho, as lavagens dos veículos que eram efectuadas diariamente vão ser feitas com menos frequência. O concelho está também a levar a cabo uma acção de sensibilização que emite na factura da água algumas medidas de poupança para recordar aos munícipes como é importante não desperdiçar este recurso.
O presidente do concelho mostra-se confiante e acredita que estas medidas vão ajudar a poupar muita água. Vítor Guerreiro considera ser necessário repensar o futuro e criar mais reservas e captação de água e, nesse sentido, disse também ao POSTAL que já fez chegar ao Ministério do Ambiente um projecto de 1983 que visa a construção da Barragem do Monte da Ribeira, a norte de Tavira. “Colocar uma barragem no centro do Algarve é essencial”, acrescenta.
(Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire)