Sou revoltado, sim senhor, pois então.
Sou revoltado porque nasci na surda revolta dos calados,
Sou revoltado porque vivi na não revolta dos miseráveis,
Sou revoltado pela pobreza, pela vida vivida, pela amargura, pela injustiça da justiça, pelo não-Poder, pela consciência da inconsciência, pelas amarras da Sociedade, pela escola da vida, por não ver o que via, mas vi jovens morrerem à sombra de um trapo roto com três cores.
A revolta, amassadura lêveda pela vida, cresceu e sublimou a existência malfadada pelo fado amordaçado e manietado, segue pela vereda da liberdade de pensar.
A revolta é um estado de alma, é um saber do não saber, é um sonho não sonhado, mas vivido, é um arrepio no calor do pensamento, é um produto, é uma causa mãe de muitas causas, procura o norte sem o perder.
A revolta tem a cor do sangue de que vive e reproduz, o verde é uma miragem.
A revolta surge com a utópica quimera, desvanece como as ondas do mar na areia, esfuma-se e reaparece, perdura não existindo, aquece no duro frio do vazio social.
Estou revoltado porque vejo a Sociedade com pés de barro vestida de outras cores.
Estou revoltado porque vejo a mesma fome, a mesma sede, a mesma injustiça, a mesma doença, mas outros analfabetos.
Estou revoltado porque o embrulho só mudou de cor.
Estou revoltado porque a política está travestida.