A Antropologia permite-nos compreender de modo critico as culturas e os complexos processos sociais do mundo contemporâneo.
Antropologia é um vocábulo derivado da junção das palavras gregas «anthropos» (que significa ser humano) e «logos» (que significa ciência). A Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo comparativo do ser humano e da humanidade de uma forma totalizante, isto é, que tem em conta as suas múltiplas dimensões biológicas, culturais e sociais.
A Antropologia esteve durante muito tempo da sua história centrada no estudo das sociedades sem escrita ou exóticas. Na atualidade, porém, a Antropologia produz conhecimento sobre todas as sociedades, antigas e modernas, simples e complexas, incluindo as sociedades de origem da grande maioria dos investigadores, concretamente as sociedades Ocidentais. Ou seja, em Antropologia, hoje em dia, os investigadores estudam os outros e nós próprios, familiarizando-se com o que lhes é estranho e vice-versa.
A Antropologia divide-se em duas grandes áreas de investigação. A Antropologia Biológica estuda a evolução, as variações e a adaptação dos seres humanos ao meio ambiente, os primatas não humanos e os hominídeos extintos. Incluem-se aqui a Primatologia, Paleoantropologia, a Antropometria, a Antropologia Forense e a Biologia Humana, entre outras subdisciplinas.
Já a Antropologia Social e Cultural estuda os aspetos comportamentais do ser humano em sociedade, a organização social e política, o parentesco, as relações e instituições sociais, tal como os aspetos culturais, entre eles a língua, a religião e os sistemas simbólicos, procurando compreender as conexões entre os indivíduos, entre os indivíduos e a cultura e entre as culturas e o meio ambiente. Incluem-se aqui as Antropologias da Educação, do Simbólico, da Religião, do Género, do Turismo, das Migrações, de Fronteiras, das Comunidades Nacionais, da Etnicidade, da Violência, da Segurança, da Energia, do Ambiente, do Parentesco e da Família, entre outras áreas de especialização.
A Antropologia tem a particularidade de questionar aquilo a que se costuma chamar de «senso comum», ajuda a compreender as razões pelas quais as pessoas fazem o que fazem e ensina-nos a relativizar as culturas, no tempo e no espaço, mediante a produção de conhecimento empiricamente sustentado.
O saber antropológico deriva da aplicação sistemática e controlada de métodos e técnicas de investigação devidamente validados, e do respeito de regras deontológicas, que norteiam a recolha, o tratamento e a análise de dados empíricos de cunho sobretudo qualitativo.
O método etnográfico é principal método de pesquisa dos antropólogos sociais e culturais. Este método baseia-se em trabalho de campo com observação participante, o que implica normalmente a permanência do investigador no seio do grupo em estudo durante um período prolongado (um ano ou mais), a eventual aprendizagem da língua, a participação nas atividades do dia a dia (e nas extraordinárias), a realização de entrevistas, a observação das interações sociais e a identificação de padrões de comportamento. Amiúde, isso permite-lhes estabelecer comparações entre sociedades e tecer considerações gerais sobre a vida do ser humano em sociedade.
As origens do conhecimento antropológico remontam à Antiguidade Clássica. Mas há uma opinião generalizada de que a Antropologia se desenvolveu como disciplina no século XIX.
Em Portugal, a Antropologia tem vindo a ser desenvolvida sensivelmente desde o último quartel do século XIX, sendo presentemente um campo disciplinar consolidado, com uma oferta formativa de qualidade internacionalmente reconhecida ao nível do ensino superior.
No entanto, no nosso país, a Antropologia tem sido muito pouco valorizada na oferta formativa ao nível do ensino básico e do secundário. Existe apenas como disciplina optativa no 12º ano de escolaridade – e num reduzido número de escolas -, disciplina essa que os antropólogos, estranhamente, continuam a não ser reconhecidos pelas instâncias oficiais como sendo titulares de habilitação própria para lecionar, pelo que são geralmente ultrapassados por pessoas de outras áreas nos concursos de colocação de professores.
Acresce que a Antropologia não está representada no novo Conselho Científico da Fundação para a Ciência e a Tecnologia para as Ciências Sociais e Humanidades. Tal reflete uma tendência de desvalorização da disciplina que, infelizmente, se vem registando na Europa e não só há mais de uma década. Desde que a OCDE e os seus países membros, entre eles Portugal, produziram e publicaram a edição de 2002 do Manual Frascati para a classificação FOS ao nível das grandes áreas disciplinares de investigação e desenvolvimento tecnológico, onde a Antropologia não constitui um domínio autónomo de conhecimento. Desde 2007, esse Manual coloca a Antropologia dentro da Sociologia, juntamente com a Demografia, a Etnologia e outros Tópicos Sociais.
Luís Silva
(Antropólogo e investigador no Centro em Rede de Investigação em Antropologia)
2018 – Ciência na Imprensa Regional / Ciência Viva