Se o quadro do país é negro, as perspetivas para o quadro do Algarve está cada vez mais longe de começar a melhorar.
A Ria Formosa pode até ser “uma das sete maravilhas do mundo”, como dizia antes da pandemia Noélia Jerónimo, proprietária do restaurante com o seu nome em Cabanas de Tavira, mas cinco meses depois do seu elogio deixado no jornal Expresso, o mundo mudou. Noélia Jerónimo viu-se obrigada a encerrar por tempo indeterminado um dos melhores restaurantes do Algarve, depois dela e parte da sua equipa terem acusado positivo no teste à Covid-19 e terem assim dito adeus ao tímido verão algarvio, que, em muitos aspetos, assemelha-se a um longo inverno.
O desemprego continua a disparar com uma taxa muito superior à generalidade do país e a pouca esperança depositada no verão desvanece-se de dia para dia, com empresas a fechar portas ou em risco de encerrar.
Há dias foi anunciado o que poderá ser uma boa nova: um reforço de 300 milhões de euros para o Algarve. O grande receio está, não só no da qualidade da sua aplicação, mas na incerteza de que quando o dinheiro chegar ainda possa reparar os estragos sociais e económicos da região.
O mal do Algarve não é de agora. Falta-lhe uma elite regional que saiba combater a sua situação periférica perante Lisboa e o resto do país. Falta-lhe massa crítica capaz de garantir um desenvolvimento harmonioso e sustentável, sem ficar refém da dependência do mercado britânico e da ideocracia governamental.
Entretanto, o Algarve atravessa o seu segundo inverno consecutivo em pleno verão e teme pelo que pode acontecer no terceiro. Quem cá vive sabe que o pior ainda está para acontecer, só não sabe quando se vai iniciar a fase mais crítica da crise.