Nos últimos anos a arte tem procurado sair dos museus para ir ao encontro das pessoas, sendo a arte urbana uma das principais manifestações desta tendência.
Isto tem levado a um aumento do tamanho das obras, estando a expressividade artística associada ao impacto que estas causam devido à sua dimensão.
É óbvio que a escala das obras deverá estar articulada com o conjunto da linguagem escultórica, nomeadamente o relacionamento com a arquitetura e a paisagem onde são feitas ou colocadas.
Por exemplo, a obra escultórica criada por Anish Kapoor, que já expôs nos jardins de Serralves, tem sido concebida a uma escala de grandes dimensões, em ambientes urbanos. Este artista considera a grande dimensão que têm as suas obras como “parte da linguagem da escultura, essencial para envolver fisicamente o espetador”. A dimensão da obra produzida implica sair da “zona de conforto” em termos percetivos, repensando os objetos e a sua relação com o mundo.
Efetivamente, a mudança de escala dos objetos artísticos é um fator que permite alterar a sua perceção e o efeito emocional que estes podem ter sobre o espetador.
A perceção tem sido um domínio estudado pela Psicologia há mais de 100 anos, desde as experiências de Werteimer em 1912. Aspetos como o movimento dos objetos ou a forma como se relacionam no espaço têm influência sobre a perceção dos mesmos pelo espetador. Isto porque a perceção é subjetiva e dinâmica, reconstruindo ela própria os objetos percecionados pelo sujeito.
Também muito recentemente o artista britânico David A. Lindon recriou famosas obras de arte em formato miniatura, com uma dimensão tão pequena que cabem na cabeça de uma agulha. O antigo escultor britânico recriou com precisão seis obras de reputados artistas, como “O Grito”, do norueguês Edvard Munch, e “A Noite Estrelada” e “Doze Girassóis numa Jarra”, do holandês Van Gogh, tendo conseguido vender todas as peças por um valor superior a 90 mil libras (mais de 100 mil euros).
Já em 2012, o artista microescultor Willard Wigan havia produzido uma miniatura da tocha olímpica, a qual cabia no buraco de uma agulha, para comemorar a realização dos jogos em Londres. Além de criar a “menor tocha do mundo”, com detalhes impressionantes a partir de um pequeno pedaço de ouro de 24 quilates, adicionou ainda à obra os cinco anéis olímpicos, usando um mini cinzel de diamante.
A obra era tão minúscula e minuciosa que foi produzida durante a noite, para evitar as vibrações geradas pelo tráfego, tendo sido necessário usar um microscópio para esculpi-la e também para conseguir apreciá-la. Além disso, Willard Wigan realizou este trabalho com recurso a técnicas de respiração e meditação. Segundo as suas próprias palavras, “’eu tenho que entrar num estado meditativo antes de começar. Fazer algo deste tamanho é muito cansativo. Primeiro, preciso gravar a imagem na minha cabeça e depois desacelerar o sistema nervoso para evitar tremer, garantindo que cada corte seja feito entre batimentos cardíacos”.
A dimensão é assim uma variável que pode ser explorada na produção artística para aferir o impacto percetivo e emocional das obras de artes visuais.
O aproveitamento do impacto da obra criada pela dimensão da mesma tem sido usado por vários artistas contemporâneos. É o caso de Joana Vasconcelos, conhecida internacionalmente pelas suas obras em grande dimensão, feitas com objetos da vida quotidiana. Objetos que habitualmente passam despercebidos ao mundo da perceção artística, mas que Joana Vasconcelos integra em grandes quantidades, dando-lhes um sentido simbólico e permitindo que “o todo seja mais do que a mera soma das partes”.
Embora a tendência na arte contemporânea seja a produção de obras com grandes dimensões, tem havido também uma aposta em trabalhos de pequenas dimensões por parte de alguns artistas, em que o ser “miniatura” é um dos aspetos originais e identitários das obras produzidas.
Ainda em junho deste ano foi inaugurada a exposição “Masterpieces in Miniature” (“Obras-primas em miniatura”), na Pallant House Gallery, em Inglaterra, com obras dos 30 artistas britânicos mais famosos, incluindo Damien Hirst e Rachel Whiteread, sendo considerada a menor mostra de obras em museu de todos os tempos, pois o espaço é o equivalente a uma casa de bonecas.
Procurando chamar a atenção para certos problemas da sociedade, o artista britânico Slinkachu tem realizado instalações em miniatura que deixa no exterior, como uma forma de arte urbana. É o caso da beata de um cigarro convertida em obra de arte, para chamar a atenção do lixo e da poluição causada pelo consumo do tabaco.
Assim, o “pequeno” também tem lugar na arte contemporânea, sendo grande o detalhe, a minúcia e também a beleza e o significado que estas obras podem permitir expressar.