“Felizes aqueles que se fixam especialmente na parte boa dos outros”
Papa Francisco
Com este último artigo do ano gostaria de deixar algumas palavras baseadas no que o Papa Francisco publicou nestes últimos anos, que são textos de grande inspiração e irreverência e que algumas pessoas talvez não conheçam.
O Papa Francisco faz 84 anos no próximo dia 17 de Dezembro (Dia de São Lázaro) e mantém uma imensa lucidez, capacidade de trabalho e entrega aos outros para além de ser porta-voz de tanto que está em nós e nem sempre sabemos expressar.
Destaca-se pela sua humildade, coragem, sabedoria, simpatia e sorriso. Acredito que seja uma das figuras mais acarinhadas independentemente da religião ou não religião de cada um.
Tem publicado vários livros durante o seu pontificado para além das Encíclicas, sendo o mais recente Voltemos a sonhar. O caminho para um futuro melhor, que sairá em breve em português.
Reflecte sobre este tempo de crise pandémica e de provação reveladora dizendo que “de uma crise nunca se sai igual”. Todas as crises trazem uma lição, que é preciso saber compreender. Há sempre o sonho de um mundo melhor. O Papa usa uma linguagem acessível a qualquer pessoa escrevendo frases simples como esta: “(…) se te deixas mudar, sais melhor. Se, ao contrário, ergues as barricadas, sais pior”.
O referido livro contém imagens, conselhos e sugestões poderosas e dá ainda enfoque a aspectos que referiu nas encíclicas, pois provavelmente há mais pessoas a ler os livros do que as encíclicas.
Cito uma parte deste livro em que o Papa se refere à Encíclica Laudato Si, que é um texto riquíssimo em profundidade e actualidade. Foi o texto usado como base de trabalho num conjunto de palestras/catequeses que desenvolvi entre Outubro de 2019 e Março de 2020 dedicado ao “Cuidar da Casa Comum”.
Diz então o Papa Francisco: “Afirmei que é necessária uma conversão ecológica, não apenas para esconjurar a destruição da natureza por parte da humanidade, mas para evitar que esta se destrua a si própria. E dirigi um apelo a favor de uma “ecologia integral”, uma ecologia que vai muito além do cuidado da natureza; é ter cuidado uns pelos outros como criaturas de um Deus que nos ama, com tudo aquilo que implica”.
Há um outro livro do Papa Francisco escrito neste tempo de COVID-19 intituladoVida após a Pandemia,em que começa precisamente com as palavras que dirigiu “à cidade e ao mundo” a 27 de Março de 2020:
(…) Desta colunata que abraça Roma, desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus”.
Creio que muitos não esquecerão a Quaresma de 2020 em particular aquela tarde de oração e bênção Urbi et Orbiem que o Papa Francisco apareceu a pé, debaixo de chuva, sozinho e subiu o adro da Basílica de S. Pedro. Foi um magnífico momento, em plena pandemia, em que estivemos espiritualmente unidos ao mundo. Ao som do canto eucarístico “Tantum ergo”, o Papa apresentou a Cruz e elevou-a numa bênção em silêncio total.
O Papa Francisco é uma inspiração e as suas palavras têm eco nos mais simples e nos mais eruditos. Sempre com as questões do mundo actual muito presentes. Recentemente disse que “um cristão defenderá os direitos e as liberdades individuais, mas nunca poderá ser um individualista. Um cristão amará e servirá o seu país com sentimento patriótico, mas não pode ser um mero nacionalista”.
E disse ainda: “Encorajo todas as pessoas que detêm responsabilidades políticas a trabalharem activamente em prol do bem comum”.
É preciso abandonar a cultura “selfie” e ir ao encontro dos outros. Porque “são os outros, à nossa volta, que, como Ariadne, nos ajudam a encontrar caminhos de saída, a dar o melhor de nós mesmos”.
Achei muito curiosa esta referência papal a uma deusa grega, também designada “senhora dos labirintos”, porque, citando Francisco o “pior” que pode acontecer é “ficar a olharmo-nos ao espelho, entontecidos por andar às voltas sem nunca sair do labirinto”.
Um espírito muito aberto, como Jesus Cristo seria se vivesse nestes tempos, em que é preciso incluir e não excluir, em que é preciso aceitar a diferença em vez de rejeitar, porque afinal somos todos irmãos.
Há dias comecei a ler a nova Encíclica a que o Papa deu o nome de Fratelli tutti (Todos irmãos – sobre a fraternidade e a amizade social).
Também é possível seguir o Papa Francisco pelas redes sociais (mais de 40 milhões de seguidores) em que o Papa convida a passar «do “like” ao “amém”»!
Que este Natal seja um verdadeiro tempo de reflexão, um tempo que nos levará a perceber que afinal havia tanto de supérfluo e que este tempo é uma grande oportunidade para redescobrirmos o melhor que há em nós.
(Artigo publicado no Caderno Cultura.Sul de dezembro)