Hoje [sábado, dia 19 de Novembro], nesta acolhedora cidade de Tavira, e digo-o com emoção mal contida, foi-me dado reviver momentos na minha vida e carreira profissional que per si constituíram momentos altos da minha vivência militar. Tratou-se de assistir, ao longe e com descrição, ao Juramento de Bandeira que teve lugar na Praça do Município.
Efectivamente o meu percurso profissional proporcionou-me a participação, ao longo da carreira, directamente, em cerca de 30 Juramentos de Bandeira, no desempenho de diversos tipos de função e cargos.
E este dia especial leva-me a refletir uma vez mais sobre Tavira e sua envolvência militar, especialmente sobre o quartel, edifício histórico militar que se entranhou na génese dos Tavirenses. Sim, estou crente não existir tavirense que não assuma como seu o Quartel da Atalaia.
E daí este pequeno apontamento, neste dia de ligação de Tavira às suas nobres tradições militares.
O Quartel da Atalaia:
Na prossecução das orientações estabelecias no conceito estratégico de Defesa Nacional, o dispositivo de forças definido, (leia-se aqui distribuição dos efectivos), tem como principal factor de planeamento (e de execução) a racionalização, obtida pela concentração de meios, buscando a maior economia e a rentabilização do apoio logístico, o que passa pela limitação do número de infraestruturas utilizáveis. A desactivação de quarteis é uma realidade consonante com tais opções estratégicas, fundamentadas em disposições legais, tomadas nos órgãos próprios do Estado.
Daqui se chega aos fundamentos da saída de Tavira do Regimento de Infantaria Nº 1.
A legítima opinião de “querer manter” na nossa cidade forças militares, cai por terra face à dura realidade que a evolução, também em termos militares, em si comporta.
Atente-se todavia que, derivando do conceito estratégico de defesa, as forças armadas estão vocacionadas para missões de interesse público, associadas ao desenvolvimento sustentado e ao bem-estar das populações. Mas tal não implica que sejam sediados efectivos de proximidade. A mobilidade (pronta e célere) é nos dias que correm uma conquista civilizacional objectiva, não sendo entendida como necessária a presença próxima, nem permanente, dos meios.
Por tudo isto afirmamos que a romântica utopia de manutenção futura duma presença militar em Tavira não encontra suporte na realidade.
A reformulação do dispositivo militar nacional, atrás referida, levou à retirada do Regimento de Infantaria de Tavira, deixando vago o Quartel da Atalaia, onde se mantem simbolicamente um pequeno destacamento, desprovido de capacidade operacional. Foi assim criada uma oportunidade única e de extraordinária valia para reconverter aquelas instalações devolutas, excelentes e bem preservadas num complexo polivalente posto ao serviço da cidade.
A dedicação desta cidade às grandes causas e epopeias pátrias, que reportamos à longínqua crise de 1383/85, passando pelas lutas liberais, pelas invasões francesas, pelo flagelo da 1ª Grande Guerra, até à recente revolução dos cravos, é merecedora dum reconhecimento nacional que muito justamente lhe será conferido pela cedência da posse do Quartel da Atalaia. As forças vivas da cidade, o município e os cidadãos em geral, dar-lhe-ão a ocupação mais consentânea com a dignidade do edifício e com as reconhecidas carências e necessidades desta região.
Desde logo a Arte e a Cultura terão um papal determinante na utilização a dar a tais instalações. Manifestamos a nossa total concordância e apoio à sugestiva intenção, por várias vezes manifestada pelo Dr. Jorge Queiroz de no Quartel da Atalaia “instalar um polo museológico que verta à perenidade a História militar de Tavira”.
Aditamos a oportunidade de nestas grandes e espaçosas áreas do edificado se instalar ainda um polo museológico dedicado à riqueza arqueológica do nosso concelho, prestando em simultâneo a tão merecida e retardada homenagem a Estácio da Veiga, ilustre Tavirense percursor da moderna arqueologia, fazendo regressar à origem o valioso espólio que nos legou e que jaz depositado nas catacumbas dos Jerónimos.
A grandiosidade e vastidão dos espaços do Quartel da Atalaia comportarão a instalação de outras valências, que têm sido sugeridas por diversas personalidades, não cabendo a sua exaustiva enumeração neste apontamento.