A procura por destinos turísticos menos massificados e com maiores preocupações ambientais, bem como uma maior aposta na digitalização são algumas das transformações provocadas pela pandemia de covid-19 no setor do Turismo, que vieram para ficar, segundo algumas associações.
Para assinalar o Dia Mundial do Turismo que se celebra esta segunda-feira, a Lusa perguntou a algumas das associações mais representativas do setor em Portugal o que mudou de forma permanente devido à pandemia.
“Uma maior aposta na digitalização, a utilização de serviços de entrega ao domicílio através da utilização de plataformas, proporcionar experiências integradas que criem memórias e emoções e continuar a privilegiar as medidas de segurança e higiene sanitária, são propostas que podem criar valor acrescentado para os negócios”, destacou a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto.
Já no que diz respeito ao consumidor, esta associação defende que se deve procurar “corresponder às suas novas exigências de procura, que hoje se centram muito mais em destinos menos massificados e com maiores preocupações ambientais”, acreditando que se trata de “tendências que vieram para ficar, e que por essa razão é preciso adaptar e mudar para evoluir”.
“A crise sanitária que ainda atravessamos deve fazer-nos refletir sobre os efeitos que esta provocou no turismo e também no turista, com novas tendências que, embora impostas pela pandemia, podem perdurar no tempo e criar novas oportunidades para os negócios do alojamento turístico e da restauração e bebidas”, apontou Ana Jacinto.
Por seu turno, na perspetiva da vice-presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, falar no que mudou em Portugal no Turismo por causa da pandemia não é possível. “Se mudou em Portugal é porque mudou no mundo”, considerou.
“Na operação – hoteleira e outras – houve com certeza muitas alterações, adaptações e revisões de procedimentos. Muitas destas alterações decorrem do cumprimento de restrições e protocolos e higiossanitários e irão passar”, defendeu a responsável da AHP.
“No entanto, e no meio de várias alterações que têm sido apontadas, destaco duas que me parecem de facto estruturais. A primeira, a aceleração da digitalização dos serviços, incluindo um maior uso da automação, por exemplo em pagamentos e serviços ‘contactless’; experiências virtuais; informação em tempo real, etc. A segunda, a aceleração da busca da Sustentabilidade, nos destinos, nos prestadores de serviços (hotéis, companhias aéreas, etc etc.); no menor impacto ambiental que as escolhas individuais podem ter”, ressalvou Cristina Siza Vieira.
No mesmo sentido, o presidente da Confederação do Turismo de Portugal, Francisco Calheiros, acredita que, apesar de se tratar de um setor que vai sempre sofrendo alterações, como o que aconteceu com o surgimento das companhias aéreas ‘low cost’, “o sol e mar vai continuar a ser o sol e mar, os incentivos vão continuar a ser incentivos, os ‘city breaks’ vão continuar a ser os ‘city breaks’, o Golf, etc”.
No entanto, o responsável apontou alterações no que diz respeito às viagens de negócios, provocadas pela pandemia, uma vez que se tornou usual fazer essas mesmas reuniões através de meios informáticos e telemáticos, sem necessidade de deslocações.
“Há vários estudos feitos da mudança de hábitos da população mundial com esta pandemia e a maior parte das pessoas diz que vai gastar mais dinheiro em duas coisas: em saúde – reforçar os seus seguros, fazer seguros – e em viagens, porque isto mostrou que tudo é finito e, de facto, a viagem deixou de ser um luxo, passou a ser uma necessidade”, apontou Francisco Calheiros.
Também a Associação Portuguesa de Hotelaria Restauração e Turismo (APHORT), apesar de considerar que é “ainda um pouco cedo para se perceber mudanças permanentes”, destacou algumas tendências que a pandemia veio reforçar, como “a redução das equipas, a digitalização de processos e as preocupações ambientais, resultantes também de uma nova agenda política”.
Para o presidente da APHORT, Rodrigo Pinto de Barros, do lado do consumidor “tem-se verificado, por exemplo, um interesse crescente por destinos tradicionalmente menos visitados, com menor densidade populacional, e essa é uma oportunidade que, não só as empresas, mas também as autarquias devem procurar explorar”.
Já no que diz respeito a uma das regiões mais turísticas do país, a Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) realçou que “ofertas turísticas pouco consistentes encerraram definitivamente, quer ao nível do alojamento privado e local, quer no que se refere a oferta menos estruturada, como o ‘self-catering’, por exemplo”.
Mais, no Sul do país, “o desemprego aumentou, exponencialmente, e muita mão-de-obra regressou aos países de origem e/ou migrou para outros setores de atividade, criando um problema estrutural de falta de mão-de-obra qualificada no período de retoma”.
“No Algarve, o número de desempregados inscritos é muito mais elevado do que no período pré-pandemia (três vezes mais) e falta mão-de-obra para satisfazer as necessidades empresariais”, alertou a AHERTA.