“No final do século, o nosso território vai experimentar, de acordo com as nossas melhores projeções, mais cerca de três secas por década, ou seja, atualmente, nós temos uma ou 1,2 secas por década em Portugal, e as projeções apontam-nos para quatro, quase cinco secas em algumas áreas do nosso território, por década. Imaginem o quão grave isto é”, alertou o investigador Rodrigo Proença Carvalho na passada semana à TSF.
Segundo dados do primeiro estudo nacional que traça a origem e o destino de toda a água no país, o futuro a sul será pior, já que os rios da região algarvia possuirão menos 49% de água no fim deste século.
O vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), Pimenta Machado, salientou que as conclusões deste recente estudo recomendam cautela na gestão das reservas atuais. Portugal já perdeu 20% da disponibilidade dos recursos hídricos nas últimas décadas e, no final do século, o Algarve terá metade da água que hoje tem disponível. A par do impacto das alterações climáticas, o documento também revela que os portugueses estão a gastar demasiada água.
Estando Portugal sinalizado com um risco elevado de stress hídrico, não tem uma situação homogénea em todo o seu território. Quanto mais se desce a sul mais se sente uma redução na água disponível. A zona abaixo do Tejo, classificada com o nível máximo de risco, é a região mais vulnerável do país e é precisamente no Alentejo e no Algarve onde se registaram mais secas de maior dimensão e gravidade, ao longo de todo o século XX, refere um estudo do Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável publicado em 2020 sobre o uso da água em Portugal.
Ainda segundo Pimenta Machado, “sempre que há uma seca, há um aumento do pedido de captações de água. Recebemos na APA em média 20 mil pedidos de captação de água e isto não pode continuar assim”.
Pimenta Machado também critica que “os setores continuem a apostar na oferta e menos na eficiência da procura. Em Portugal consumimos dois Alquevas, isto é, qualquer coisa como seis mil hectómetros cúbicos”. Nestes gastos, a agricultura tem um peso de 70%. E frisou: “São os sectores que têm de se adaptar ao território e não o contrário”.
O estudo agora apresentado indica a água que se tem hoje e a que poderá não se ter no futuro e é um primeiro passo para quantificar as disponibilidades hídricas atuais e futuras; caracterizar os usos, consumos e necessidades de água; determinar o índice de escassez (WEI+) por sub-bacias; e avaliar a evolução das disponibilidades hídricas face a cenários de alterações climáticas.