Tal Zaks é diretor científico da empresa de biotecnologia norte-americana Moderna e, em entrevista ao jornal El País, explicou em que ponto estão os trabalhos para o desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19.
Começa por afirmar que “se forem necessárias duas doses para pôr fim à pandemia, vamos arranjar forma de o fazer”. O alerta é feito uma vez que algumas pessoas vacinadas possam vir a adoecer novamente e, por isso, defende a necessidade de se conhecer ao pormenor a segurança que a vacina realmente oferece às pessoas.
Continua em entrevista ao jornal espanhol, explicando que “acho que o que é realmente importante, para nós laboratório e para a sociedade, é perceber o perfil de segurança e os efeitos secundários antes de começarmos a vacinar as pessoas”. Tal Zaks deu esta resposta no segmento da vontade de Donald Trump em arrancar com uma campanha de vacinação ainda antes das eleições presidenciais norte-americanas, marcadas para 3 de novembro.
É importante que “antes de começarmos a vacinar as pessoas, temos de o fazer com a consciência que nenhuma vacina é 100% eficaz. Algumas pessoas vão adoecer apesar da vacinação. Como é que eu tenho a certeza que estas pessoas não pioraram por causa da minha vacina? As pessoas podem começar a dizer: ‘deram-me a vacina e agora estou doente. Foi a vossa vacina que me fez adoecer.’ Isto não é científico, mas temos de ter dados que nos permitam também explicar isto, uma vez que somos os promotores do ensaio.”
A toma da vacina vai ser algo opcional e que não acredita que algum Governo venha a impor a obrigação da vacinação contra a covid-19. O investigador considera ainda que “há um debate público legítimo sobre se já existe informação suficiente para justificar o risco”.
Os dados são limitados “mesmo se esperarmos até ao final do ano ou até ao princípio de 2021 para termos mais conclusões sobre os ensaios clínicos”. Deste modo “pode haver efeitos adversos a longo-prazo. Até que ponto vale correr o risco de pessoas continuarem a morrer tendo em conta que podem ser vacinadas? É um debate muito difícil entre risco e benefício”, explicou.
O responsável pela Moderna ainda não sabe quanto tempo pode durar a proteção de alguém que esteja vacinado e ainda não está certo se apenas uma dose da vacina pode ser suficiente, acreditando que a toma de uma segunda dose poderá “estimular a resposta imunitária”.
Colocar fim à pandemia é o objetivo comum do mundo. Em Portugal, Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, admitiu recentemente a possibilidade de tornar obrigatória a vacinação contra a covid-19, mas considerou que ainda é cedo para tomar essa decisão.
Já o primeiro-ministro, António Costa, falou da compra de 6,9 milhões de vacinas contra a covid-19, no valor de 20 milhões de euros, adiantando que em Portugal a vacinação será “universal e gratuita”.
Para já, sabe-se que “vão ser estabelecidos aquilo a que se chama de grupos prioritários para a vacinação e estes grupos são definidos por especialistas, mas a primeira linha de consideração é o tipo de vacina e as características dessa vacina”, afirmou recentemente Graça Freitas.
Entre as 165 vacinas atualmente em desenvolvimento, 26 estão já em fase clínica, quatro das quais na última fase 3 de desenvolvimento e em fase mais avançada de negociação.
Portugal regista mais duas mortes relacionadas com a covid-19 e 399 novos casos confirmados de infeção nas últimas 24 horas, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) hoje divulgado.
De acordo com o boletim da DGS, desde o início da pandemia até hoje, registaram-se 56.673 casos de infeção e 1.809 mortes.
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