Enquanto o PCP vai tentando explicar a sua posição sobre o que se passa na Ucrânia, há comunistas portugueses que saem do guião ditado pela Soeiro Pereira Gomes e condenam “firme e veementemente os atos de guerra perpetrados pela Federação Russa na Ucrânia”. É o que fazem os comunistas de Grândola, mas também de outros municipios de maioria comunista, como Palmela e Santiago do Cacém, que chegam mesmo a usar o termo ‘invasão’ que o PCP tem evitado.
A Câmara Municipal de Grândola, onde o PCP tem maioria absoluta aprovou por unanimidade uma moção que condena a ação da Rússia na Ucrânia. Ainda que não use a palavra ‘invasão’, também “condena que desejos expansionistas territoriais, bem como interesses económicos e geopolíticos, resultem na perda de vidas humanas e na destruição de cidades – das suas infraestruturas essenciais e do seu património”.
A moção aprovada na quinta-feira, como se pode ser no documento, resultou de “um amplo consenso entre os eleitos da CDU e do PS”. Os eleitos comunistas são quatro e os socialistas três. E juntos apoiam “firmemente a soberania e a integridade da Ucrânia” e enviam “uma palavra de solidariedade ao povo ucraniano e muito em particular à comunidade ucraniana presente no nosso país”.
“A ajuda às populações afetadas é urgente e todo o apoio lhes deve ser urgentemente facultado”, dizem os vereadores de Grândola, que ao contrário do PCP não apontam culpas pelo que está a acontecer ne, aos EUA, nem à NATO, nem à União Europeia. “Haverá, certamente, tempo para aprofundar as origens deste conflito. Mas hoje, o que verdadeiramente importa é recuperar a paz no leste Europeu e restabelecer negociações e firmar acordos que a garantam a longo prazo”, lê-se na moção.
“Estamos a sair de uma pandemia, em que um vírus invisível suspendeu as nossas vidas; não vamos agora aceitar que, da escalada da tensão e do confronto entre potências com capacidade nuclear, advenham novas consequências trágicas para toda a humanidade”, defendem os vereadores na moção que em que a Câmara de Grândola “reforça a defesa dos princípios da autodeterminação dos povos e da soberania dos Estados, e advoga que as disputas internacionais sejam solucionadas por meios pacíficos, de modo que se garanta a paz e a segurança internacional”.
Se Grândola condena com palavras fortes, apesar de não usar o termo ‘invasão’, Santiago do Cacém usa mesmo o que parece ser uma palavra proibida pelo PCP. A Assembleia Municipal daquele município também de maioria comunista aprovou, na quarta-feira, uma moção a “manifestar o seu repúdio pela invasão da Ucrânia pela Rússia”. De acordo com o que está publicado no site do municipio, a moção será enviada para as embaixadas da Rússia e da Ucrânia, para o Presidente da República e para a Assembleia da República.
Já em Palmela, não houve unanimidade que permitisse uma moção conjunta, mas foram aprovadas as quatro moções apresentadas pelos partidos representados na Câmara, ainda que a moção do PSD tenha tido a abstenção dos eleitos da CDU. E também aqui a moção da CDU usa termos que o PCP se tem recusado a usar. “O Município de Palmela rejeita liminarmente a invasão e a guerra na Ucrânia – tal como, coerentemente, tem rejeitado todas as ações de invasão e agressão, perpetradas em qualquer parte do globo – e está solidário com o povo ucraniano, bem como com o povo russo, vítimas das decisões dos seus líderes”, lê-se na moção da CDU.
Já Silves, que tem maioria absoluta CDU, não tem moção publicada na página do município, mas no anúncio da solidariedade com o povo ucraniano também não teme as palavras “Atendendo aos graves acontecimentos na Ucrânia, cuja invasão russa e guerra condenamos”, começa por se ler no site que, no entanto, não deixa de fazer referência, como o PCP tem feito, aos 15 mil mortos que foram vítimas do que consideram ser a guerra da Ucrânia contra as repúblicas independentistas.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL