A feira ainda mal tinha aberto as portas e já estava uma pequena multidão de olhos fixados nas mãos de Francisco Eugénio, que dava forma a peças de barro em menos de três minutos, com uma habilidade inacreditável.
O POSTAL encontrou este oleiro num dos primeiros expositores da IV Mostra da Primavera, em Tavira.
Francisco representa a quarta geração de oleiros da família e nunca chegou a ter outra profissão. “Cresci dentro de uma olaria, a minha brincadeira era mexer no barro”, disse ao POSTAL.
“Gosto muito de vir a esta feira de Tavira, tem muito turismo. Costumo trazer esta roda mais artesanal porque as pessoas gostam de ver como faço as peças, apesar de já trabalhar com uma máquina mais mecanizada com a qual faço 97 peças por hora”, declarou o artista.
Quanto à técnica brinca, “quando a perna direita está cansada trabalha a esquerda”. “É preciso muito jeito e muita força de vontade para fazer este trabalho”, garante Francisco.
“Eu zanguei-me muitas vezes com a roda, voltava-lhe as costas às vezes, porque um dia conseguia fazer as coisas e no outro dia já não, e isso às vezes dá vontade de desistir mas a paixão era e é tanta que lá fazíamos as pazes”, confidencou ao POSTAL.
Hoje em dia recebe aplausos pelo que faz. E são tantos que se ouve alguém atrás dizer que “devia meter um cestinho para moedinhas, com a quantidade de pessoas que se junta a apreciar o trabalho”. “É maravilhoso, adorava aprender”, diz um popular. Francisco agradece, muitas vezes, humildemente e com a paixão estampada na cara.
Mais à frente encontramos a Célia, uma “sobrevivente da crise”. “Tinha uma empresa e entrei em falência, fui apanhada pela crise”, conta-nos a criadora da Afago, uma marca de cosméticos naturais.
A sua banca não passa despercebida, tem cor e cheiro e um sorriso muito rasgado. “O nome da marca que criei representa tudo aquilo que sou. Gosto de abraços, de carinhos, gosto de afago e de pessoas”. A Afago tem sabonetes, esfoliantes, hidratantes, difusores de cheiro para a casa, bálsamos para lábios e muitos mais produtos “todos feitos com produtos naturais”. Os preços não ultrapassam os 10 euros.
Há uma banca que faz concorrência ao cheiro a rosas da banca da Célia. É a barraquinha de madeira de Martin Lucke, a única a vender flores nesta Mostra da Primavera.
Martin é alemão, vive em Portugal há 29 anos e o negócio, esse, já o trouxe da sua pátria. “Quando era jovem era agricultor, e depois mudei para a floricultura porque se ganhava melhor na altura”, disse ao POSTAL.
Nas bancas do certame podem ver-se, para além de portugueses, comerciantes oriundos de outros países que escolheram Portugal para viver e trabalhar, como é o caso de Martin.
O alemão vai manter-se na IV Mostra da Primavera até segunda-feira, dia em que termina o evento. Até lá pode visitar os vários expositores de enchidos, licores, doces e bolos tradicionais, artesanato, sempre com animação musical. Hoje, pelas 21.30 horas há Capicua no palco principal. O Francisco, a Célia e o Martin também lá estarão.
(com Ricardo Claro)