Morreu uma das figuras mais emblemáticas da restauração algarvia, José Vila aos 77 anos.
Vila, juntamente como seu amigo Lisa, abriram, na Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão, a adega Vila Lisa em 1981, que tornou-se uma referência nacional.
O Restaurante Adega Vila Lisa nasceu nas instalações de uma casa algarvia, com portas e janelas enquadradas por barras azuis, mesas e bancos corridos, que favoreciam uma boa conversa e convívio à refeição.
A mística do restaurante assentava em servir apenas jantares, sempre com preço fixo, compostos por um Menu de Degustação que inclui, quatro pratos, vinho branco, vinho tinto, água mineral e sobremesas.
A adega passou a ser conhecida depois de Miguel Esteves Cardoso ter feito os primeiros elogios públicos. Seguiram-se os escritos de António-Pedro Vasconcelos e Miguel Sousa Tavares que alargaram a fama do Vila Lisa e a adega, rapidamente, tornou-se um ponto de referência e de encontro no verão algarvio.
Por lá passaram notáveis figuras com episódios memoráveis vividos no restaurante. Um dos mais emblemáticos jantares foi com o ator Robert de Niro, acompanhado por James Gandolfini, o Tony Soprano. Depois de se terem deliciado com os tradicionais pratos de sopa de grão com rabo de boi, o polvo assado no forno e pernil, reza a estória que depois do “regado e farte” repasto, Gandolfini pediu autorização para dormir no restaurante e assim fez, mas em cima de uma das mesas.
Nomes como Mário Soares, Carlos do Carmo, Zita Seabra, Eduardo Barroso, entre muitos outros, eram verdadeiros fãs da emblemática adega Vilalisa.
Comer e degustar na adega tornou-se um ritual desejado para muitos. Entre as várias especialidades peculiares, destacam-se as batatas de molho frio, tomatada, estupeta de atum, morcela algarvia e requeijão como entradas. Mas o cardápio apreciado era ainda mais extenso, passando pela canja de conquilhas ou ameijoas ou xerém de ligueirão, ensopado de cação ou massa de safio, ou ainda pelo polvo assado ou pernil de porco no forno, sem esquecer a delicada sopa de grão, quase sempre obrigatória.
A sobremesa “obrigatória” juntava café de saco, doces e digestivos.
A coca-cola ou cerveja eram “proibidas”. Ali bebia-se vinho ou água, ou ainda gin, a bebida de eleição do pintor-cozinheiro.
José Vila ganhou o apelido de pintor-cozinheiro devido à sua paixão pelo poeta Vargas Vila. Quando terminava uma refeição “degustava” sempre um dos seus seus característicos charutos.