Era actualmente director do Museu Geológico de Lisboa, onde trabalhava intensa e apaixonadamente “pro-bono” com paixão e generosidade, cuidando das suas extraordinárias colecções com mais de 4000 peças de paleontologia, arqueologia pré-histórica e outros materiais. ‘Um museu que ensina’ era o seu lema e assim ensinava com gosto e entusiasmo quem visitava o Museu, e foram muitos os portugueses e estrangeiros.
Miguel Magalhães Ramalho lutou muito por este importante museu, como lutara antes pela classificação de várias Áreas Protegidas, a começar pela Serra da Arrábida onde tentou, ainda no tempo da ditadura, impedir a construção da estrada do Portinho. Lutou também pela protecção das das Paisagens Protegidas da Arriba Fóssil da Costa da Caparica e de Sintra-Cascais. Tal como combateu tantas vezes contra a irracionalidade da ocupação imobiliária do nosso massacrado litoral pois que, enquanto geólogo, sabia bem a imensa vulnerabilidade das zonas costeiras. Era um gosto ouvi-lo explicar as causas, dinâmicas e características geológicas das nossas zonas costeiras e as criminosas implicações da sua ocupação pesada e intensa. Foi assim que o vimos fazer quando fomos testemunhar num processo ligado aos agora constantemente inundados prédios em cima da praia do Furadouro, concelho de Ovar. Isto numa altura em que pouco se falava ainda das alterações climáticas e da subida do nível médio do mar.
O Miguel lutou por um conceito integrado de conservação da Natureza e onde na linha mais clássica se incluía também naturalmente a geologia. Fê-lo sempre com frontalidade e conhecimento num país cuja cultura pública pouco valoriza ainda hoje essa enorme riqueza ambiental, científica e paisagística. Veja-se como o actual Green Deal europeu a quer agora restaurar. Miguel Magalhães Ramalho era um entusiasta, um lutador, um sábio, um crítico irónico, uma excelente companhia.
Transmitia alegria e entusiasmo em tudo o que fazia. Nos últimos anos dedicou-se muito ao Museu – um dos museus geológicos mais antigos do mundo (1813-1882), fundado sob o impulso de Filipe Folque. Com ele aprendia-se sempre nas muitas histórias que tinha para contar sobre o museu, sobre as suas peças, sobre o país nos seus problemas e nos seus valores naturais.
Devemos-lhe muito. Portugal deve-lhe muito.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso