Os organismos gelatinosos como as caravelas-portuguesas, perigosos em caso de contacto, podem estar a aumentar devido aos efeitos das alterações climáticas, segundo o programa GelAvista, que organiza no sábado o primeiro “Dia GelAvista”.
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) promove no sábado o “Dia GelAvista”, convidando os portugueses a comunicar avistamentos nas praias onde estiverem, ou comunicar não avistamentos, para melhor compreender a situação em termos de organismos gelatinosos, como medusas ou caravelas-portuguesas.
Ambos são dos animais mais desconhecidos e representam um dos maiores desafios no estudo do ambiente marinho, segundo o programa, que pede a participação dos cidadãos, através da aplicação GelAvista ou pelo mail [email protected].
“Queremos que as pessoas nos digam o que estão a ver por todo o país, e se a pessoa estiver numa praia e não encontrar nada também pode dar essa informação”, explicou Antonina dos Santos, investigadora e coordenadora do projeto, frisando que na dúvida de se trata ou não de uma gelatinosa deve sempre enviar-se fotografia.
Em entrevista à Lusa, a responsável explicou que essa informação, prolongada no tempo, é fundamental para perceber a evolução das gelatinosas no mar português. Porque, justificou, em várias regiões do mundo as gelatinosas estão a aumentar e esse aumento, segundo os cientistas, deve-se às alterações climáticas e ao aumento da temperatura da água, uma relação que em Portugal não é clara, até porque não existem dados suficientes.
Tendo em conta as variabilidades do clima “para fazermos a relação com as alterações climáticas precisamos de muitos dados”, disse.
As gelatinosas, segundo a investigadora, deverão aumentar porque se dão bem com altas temperaturas, com condições de anoxia (falta de oxigénio) e com escassez de alimentos. E quando outras espécies diminuem, devido por exemplo à pesca, as gelatinosas podem ocupar esse espaço deixado livre.
A espécie, avisou, se tiver condições, reproduz-se rapidamente e em grande quantidade, e as alterações climáticas podem potenciar esse crescimento (em número e rapidez).
E podermos ter um mar de gelatina? “Não temos evidência disso, há espécies a aumentar mas não é catastrófico”, respondeu Antonina dos Santos, adiantando ainda assim que já há casos preocupantes no Ártico e no Mediterrâneo.
A investigadora salientou que os surtos de aumentos são naturais e sempre ocorreram, mas acrescentou que quando os humanos fazem pressão nos ecossistemas podem provocar desequilíbrios e favorecer espécies, como as gelatinosas, levando-as a um aumento de tamanho e distribuição.
As gelatinosas são “um petisco” nalgumas regiões da Ásia e em Portugal são também servidas em alguns restaurantes, mas são mais conhecidas pela dor que provocam em contacto com a pele humana.
As caravelas-portuguesas são das gelatinosas mais perigosas para o ser humano em Portugal, já que além de provocarem dores intensas, e prolongadas, podem causar problemas cardíacos.
Antonina dos Santos explicou que, em caso de contacto, se deve evitar o pânico, lavar a zona afetada com água do mar, tirar cuidadosamente algum pedaço da gelatinosa que tenha ficado agarrado à pele e colocar compressa quente na zona da ferida. Não se deve tapar a ferida nem usar álcool.
A água-viva é outra gelatinosa comum no país, mais nos Açores e Madeira. Também provoca queimaduras ao contacto e no tratamento deve usar-se gelo. E especialmente no Algarve surge por vezes a medusa-compasso, outra espécie urticante. Segundo a especialista, outras medusas são por norma menos urticantes, embora possam provocar ferida e dor.
A página online GelAvista tem informação sobre todas as gelatinosas e no sábado, em Almada, em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória, e no Funchal sessões educativas e atividades para as famílias vão também prestar mais informação. Antonina dos Santos acrescenta ainda que muitos concelhos afixaram junto das praias informação sobre as gelatinosas.
O programa GelAvista monitoriza desde 2016 organismos gelatinosos em Portugal, incentivando os cidadãos a contribuir para o avanço da ciência através da comunicação (com data, local e hora) dos avistamentos das espécies que ocorrem no país.
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