O escritor Mário de Carvalho esteve este sábado em Loulé para receber o Grande Prémio de Literatura – Crónica e Dispersos Literários, promovido pela Câmara Municipal de Loulé e a Associação Portuguesa de Escritores, numa cerimónia que decorreu na sala da Assembleia Municipal com lotação reduzida, devido às regras de prevenção da Covid-19.
“O que eu ouvi na barrica das maçãs” foi a obra distinguida nesta 5ª edição, na qual o autor manifesta a sua faceta de cronista.
Trata-se de uma seleção das suas melhores crónicas publicadas nas décadas de oitenta e noventa do século XX no Público e no Jornal de Letras.
Com o intuito de criar uma coerência narrativa, o editor (Porto Editora) optou por agrupar as diferentes crónicas em 4 atos, representando as quatro facetas do escritor: o ficcionista, o cidadão, o comunicador e o memorialista.
Nas palavras de Francisco Belard, essas crónicas são “testemunhos de um largo campo de assuntos, abordagens, dimensões e estilos, através de eras e lugares”.
Surpreendido com esta distinção, Mário de Carvalho sublinhou neste momento de consagração: “Este prémio representou para mim um clarão súbito de alegria e também de esperança por significar que valeu a pena enveredar um dia por estes caminhos”. Um livro que retrata “coisas do dia-a-dia, dos jornais, calhandrices, relances do tempo que passa, o que se ia ouvindo aqui e além, como aquela jovem personagem que escutava os piratas, escondido na barrica das maçãs do navio”.
Numa intervenção em que abordou o seu trabalho desde que, em 1981, lançou o seu primeiro livro, “Contos da Sétima Esfera”, Mário de Carvalho falou também de uma importante referência na sua escrita, “António Aleixo, o genial improvisador, esse grande poeta popular que faz parte da minha formação”.
Carlos Albino Guerreiro, na qualidade de porta-voz do júri que integrou ainda José Cândido D’Oliveira Martins e Paula Mendes Coelho, elencou as razões pelas quais foi decidida por unanimidade a atribuição do prémio a esta obra, de entre as mais de 30 a concurso.
“Desde logo pela qualidade das crónicas que a compõem. Nelas, Mário de Carvalho conjuga algumas das suas melhores qualidades como ficcionista, contista, cronista, mestre da ironia, um dos escritores que melhor domina o léxico e a semântica da língua portuguesa, pensador atento da vida, da atualidade, da política. Fomos sensíveis à sua mestria”.
Por seu turno, José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, instituição cinquentenária parceira do Município de Loulé nesta iniciativa, sublinhou as qualidades do premiado. “O prémio foi entregue a um grande escritor português, um dos escritores maiores do nosso tempo. Autor que se renova de livro para livro, não apenas nos géneros mas nos próprios procedimentos de escrita”.
Este responsável relembrou os objetivos desta iniciativa que passam pelo “reconhecimento do trabalho que é feito a partir da comunicação social escrita ou mesmo até oral, por vários autores que têm na crónica, um género com larga tradição no nosso país desde tempos quase imemoriais e, nesse reconhecimento, afirmar também o incentivo para que as crónicas que andam dispersas pelos jornais e revistas possam ser reunidas em volume, retrabalhadas e republicadas”.
Neste âmbito salientou o facto deste ser já o “Grande Prémio de referência à escala do país” no que toca ao género crónica.
Na mesma lógica o autarca louletano, Vítor Aleixo, garantiu que “o Prémio veio para ficar”, destacando os “grandes nomes da Literatura Portuguesa” que já o conquistaram: José Tolentino Mendonça (2016), Rui Cardoso Martins (2017), Mário Cláudio (2018) e Pedro Mexia (2019).
“O ofício da escrita é apreciado neste município, procura-se divulgar a beleza das construções que a palavra permite. Acreditamos que a cultura é uma ferramenta que nos pode construir a todos nós de uma forma muito mais humana”, salientou o presidente de câmara.