O cancelamento dos festejos do Carnaval de Loulé, devido à covid-19, é apontado pelos comerciantes da cidade “como mais um rude golpe” na economia do pequeno comércio, num período em que foram levantadas as restrições aplicadas pela pandemia.
“Numa altura em que não há tantas restrições sanitárias, não se compreende porque é que foram cancelados os festejos, já que o Carnaval é uma altura em que o comércio tradicional pode recuperar alguma da sua economia”, disse à Lusa Paula Jesus, gestora de um estabelecimento de restauração.
Para a responsável pelo restaurante, instalado na avenida principal daquela cidade do distrito de Faro, “não faz sentido que o Carnaval em Loulé tenha sido cancelado, quando acabaram as principais restrições à pandemia, e a realização de outros espetáculos que criam grandes ajuntamentos de pessoas”.
“Não se compreende muito bem e é mais um rude golpe na economia dos pequenos comerciantes que têm vivido estes dois últimos anos com muitas dificuldades para manterem os negócios”, notou.
A Câmara de Loulé cancelou, pelo segundo ano consecutivo, os tradicionais festejos e desfiles carnavalescos, justificando a decisão “com o quadro pandémico que não permitiu reunir as condições para a organização dos festejos à altura do habitual Carnaval” e para salvaguardar a segurança e saúde dos milhares de visitantes que se deslocam a Loulé por este período.
Para assinalar a data, manter o “espírito” carnavalesco e dinamizar a economia local, a Câmara louletana preparou um programa alternativo, denominado “Carnaval de Loulé a fugir do bicho”, com um mercadinho especial, carros alegóricos estacionados em dois pontos da cidade, um baile em formato online e desafiou os comerciantes a decorarem os estabelecimentos com adereços alusivos à data.
Durante a manhã, a circulação de pessoas no centro da cidade era idêntica ao de um sábado normal, sendo o mercado municipal, esplanadas e cafés, os locais mais procurados, com poucos estabelecimentos a exibirem nas mostras os endereços alusivos à quadra.
Os comerciantes ouvidos pela Lusa apontam as iniciativas carnavalescas do município “como não sendo suficientemente apelativas” para atrair pessoas a Loulé e asseguram “que vão funcionar apenas no horário normal, ao contrário do que sucedia em anteriores períodos do Carnaval”.
“Sem o habitual corso de carros alegóricos e a alegria da rua, estamos convencidos que Loulé não vai atrair muitas pessoas por esta altura, daí irmos manter o horário como se de um dia normal se tratasse”, disse à Lusa José Paulo, proprietário de uma retrosaria.
O comerciante disse compreender as razões sanitárias que levaram ao cancelamento dos festejos, mas defendeu que “poderia ter sido feito algo mais de interessante para compensar uma data com muito significado para a cidade e para o comércio”.
“A pandemia provocou muitas quebras no comércio tradicional e tínhamos esperança de que os períodos especiais, como o Carnaval, ajudassem a salvar estes dois anos de confinamento”, observou.
Sandra Guerreiro, funcionária de uma garrafeira na cidade louletana, partilha da mesma opinião ao apontar que “o período [de Carnaval], aquele que mais pessoas atrai à cidade, pudesse decorrer este ano normalmente, ajudando a recuperar as receitas perdidas”.
“Tínhamos muitas expectativas, mas, infelizmente, a pandemia obrigou, novamente, ao cancelamento das festividades. Penso que sem o habitual desfile dos carros alegóricos, não iremos ter muita gente na cidade”, lamentou.
Para assinalar a quadra carnavalesca, foram colocados na principal avenida da cidade, palco do habitual corso, alguns carros alegóricos que retratam personalidades da política e do desporto, entre elas a ministra da Saúde Marta Temido, o vice-almirante Gouveia e Melo e o ex-treinador do Benfica, Jorge Jesus.
A data é assinalada também com uma exposição virtual de antigas edições do Carnaval de Loulé e um baile ‘online’, com transmissão através das redes sociais da autarquia.