Se o combate à ignorância pode ser considerado como um dos propósitos da filosofia, disciplina que promove a saúde moral e a busca do conhecimento através do debate e do livre pensamento, podemos então encarar os preconceitos, o orgulho, a intolerância ou a superstição como algo menos do que manifestações de estupidez? Maxime Rovere defende, paradoxalmente, que os estúpidos, por um lado, perturbam a vida social, mas por outro são também eles produto de uma sociedade doente; são até, muitas vezes, aqueles que mandam e estão ao serviço do poder. Contudo, quando identificamos um estúpido, através dos seus comportamentos desadequados, como alguém que se situa num «grau inferior de uma escala moral», nós, seres imperfeitos que se esforçam por alcançar a realização plena, devemos também ter a noção de que pertencemos a essa mesma escala (p. 29). E, infelizmente, a via mais fácil para responder a um estúpido é tornarmo-nos nós próprios estúpidos – até porque, aos olhos deles, somos nós os verdadeiros estúpidos, e «considerar a nossa própria opinião como algo absoluto é uma das definições subjetivas do estúpido, a imagem divina que têm de si mesmo» (p. 41).
Neste livro publicado pela Quetzal, Maxime Rovere, especialista em História da Filosofia que lecciona na Universidade Católica do Rio de Janeiro, define a estupidez como «a verdade das relações humanas» (p. 30) e relembra-nos o que podemos aprender com eles, pois somos nós quem tenta perceber a sua lógica de comportamento. Composto por capítulos breves, com máximas e conselhos que os resumem, o autor deste ensaio sobre a ética de interacção constrói a sua tese, cheia de humor, ironia e sarcasmo, mas sempre com base na filosofia, com o fito de nos ajudar a melhor compreender a estupidez humana, de modo a evitar o confronto e dar espaço àquele companheiro de casa insuportável, ao colega de trabalho com opinião sobre tudo, ou escapar à negatividade daquele amigo insuportavelmente crítico…
«Sabem muito bem que é melhor nunca insultar quem quer que seja – nem mesmo os parvalhões. Logo, a emoção que sentem no momento em que se deparam com um monte de esterco colide naturalmente com a representação mental do dever de reserva, a que não gostariam de falhar. Quanto mais essa força encontrar em vós um obstáculo tanto mais se transformará em violência.» (p. 60)