Se já deu por si a olhar uma sala cheia de gente em que subitamente todos estão a olhar para o telemóvel, ou a sentir ansiedade assim que o telefone toca enquanto está no banho, ou a entrar numa torrente de mensagens com uma conversa que se podia resolver com um telefonema de 1 minuto, ou a achar que não precisa de visitar aquele amigo doente ou o bebé recém-nascido de uma amiga, porque afinal estão em contacto nas redes sociais e já viu fotos e deixou um comentário banal, então este pode ser o livro certo para si. Com o selo da Actual (Grupo Almedina), Minimalismo Digital – Viver melhor com menos tecnologia, de Cal Newport, é um estudo que prossegue a senda de Deep Work – A concentração máxima num mundo de distrações, onde o autor faz uma análise premente de como a tecnologia interfere actualmente com o nosso comportamento e interacção social.
Baseado em diversa bibliografia, em estudos de caso e numa experiência que o próprio autor orientou enquanto escrevia este livro, em que 1600 pessoas se comprometeram a uma redução ou «desatafulhar digital», Cal Newport apresenta-nos pedaços de informação preocupante ao mesmo tempo que nos deixa algumas práticas de desintoxicação digital. Por exemplo, quando se verificou que a ansiedade cresceu entre os jovens a única variável que o podia explicar era o aumento do número de jovens com smartphone, sendo que a comunicação digital persistente está a perturbar a sua química cerebral. Quando damos por nós a deslizar o polegar ao longo dos ecrãs estamos no fundo a adquirir vícios comportamentais tão nocivos como o uso de substâncias químicas ou a agir como um jogador num casinoagarrado a uma slot machine, sempre à espera de mais qualquer coisa, mais um gosto, mais um vídeo, mais uma distracção ou um reforço emocional vazio. O Homem é, por natureza, um animal social (Aristóteles dixit) e evoluiu ao longo dos tempos até conseguir fazer uma leitura atenta da mente do outro, pois os nossos cérebros são capazes de processar «enormes quantidades de informação acerca de pistas analógicas subtis como a linguagem corporal, as expressões faciais e o tom de voz» (p. 126». Paradoxalmente, nunca o Homem esteve tão ligado ao mundo como agora, o que torna impossível difícil viver momentos de solidão com tudo o que ela acarreta de regenerativo.
O objectivo deste livro não é fazê-lo voltar atrás no tempo e viver como um amish mas sim ajudá-lo a tirar o máximo partido do imenso potencial das novas tecnologias sem se deixar governar por estas. Até porque quando olhamos para o ecrã do telefone não o fazemos apenas como resposta reflexa ao tédio, mas também porque temos vindo a ser subtilmente manietados pelos interesses dos conselhos de administração de empresas de um grupo restrito de investidores em tecnologia digital.