Este vírus que nos enlouquece, de Bernard-Henri Lévy, chega às livrarias justamente hoje, dia 7 de Julho, com o selo da editora Guerra e Paz.
Desengane-se quem achar que este enlouquece significa perder a sanidade mental, pois a forma verbal enlouquece, como se pode perceber nas epígrafes referentes à colecção da editora designada Livros Vermelhos, pretende dar que pensar e, acima de tudo, recordar ao ser humano que a vida não se esgota num vírus, como se tem assistido ao longo da História.
O autor começa portanto por lembrar as epidemias surgidas ainda no seu tempo de vida. E enfatiza como o medo, e o empolamento dos meios de comunicação, podem ser a pior epidemia. Medo esse que também acarreta, todavia, consequências positivas, como o cessar-fogo no Iémen, o confinamento do Hezbollah ou afastar o Daesh da Europa de volta às suas cavernas. Porque a covid tornou-se um denominador comum enquanto o maior inimigo da Humanidade. E porque uma epidemia, palavra grega que significa «sobre o povo», pode ser, acima de tudo, «um fenómeno social que tem alguns aspectos médicos» (p. 14).
Afirma o autor que «nunca as coisas foram tão longe». Até porque o próprio poder está «desorientado, sem saber a que santo pedir» (p. 20), pelo que nos viramos para os médicos e virologistas como salva-vidas, fazendo as vezes dos comentadores políticos. Mas a “verdade científica”, a que nós adoramos nos entregar, não é mais do que um “erro rectificado”» (p. 23), pelo que, como se tem visto, a cada dia que passa sai uma informação que contradiz a declaração do dia anterior. E, paradoxalmente, nunca a Humanidade foi tão néscia, ao ponto de querer acreditar na «ideia de que o vírus não é totalmente mau, que tem uma certa virtude oculta, e que, participando nesta “guerra”, até temos motivos para nos alegrar» (p. 36)… Como se percebe nesta passagem, a ironia do autor é bastante premente, ainda mais se tivermos em conta o contexto de declarações como esta que reportam à cidade de Paris aquando da entrada das tropas alemãs em 1940.
O livro está bastante colado à realidade francesa, ou não fosse Bernard-Henri Lévy também um cronista, mas isso não retira qualquer mérito. Porque o autor é também epistemólogo de formação, entrou na filosofia pela porta da história das ciências e é autor de um estudo de mestrado consagrado à história da medicina, pelo que está bastante bem posicionado para reflectir de forma abrangente e crítica sobre a(s) crise(s) desencadeada(s) pela irrupção do coronavírus. Concluímos com as palavras do autor quando contesta os que acreditam que o coronavírus «fala connosco», «secretamente imbuído (…) de uma parte do espírito do mundo, e, portanto, de uma missão»: «Como se um vírus pensasse! Como se um vírus soubesse! Como se um vírus quisesse! Como se um vírus vivesse!» (p. 38-39).