Em comunidades rurais do Afeganistão, onde as temperaturas rigorosas do inverno e o acesso limitado a alimentos frescos desafiam o dia a dia, um método tradicional de conservação tem sido utilizado há séculos para manter frutas frescas por até seis meses. A técnica, conhecida como “kangina”, permite preservar uvas in natura de maneira eficaz e sustentável, recorrendo apenas a materiais simples como lama e palha.
A kangina funciona armazenando frutas em recipientes hermeticamente selados. Estes recipientes, feitos de uma mistura de lama argilosa e palha, formam discos moldados em duas peças semelhantes a tigelas, que são posteriormente preenchidas com cerca de 1 a 2 kg de frutas e seladas com mais lama. Após a secagem ao sol, as kanginas são colocadas em ambientes frescos e secos, protegidas da luz direta, para garantir a longevidade das frutas.
O segredo da conservação prolongada reside na capacidade do material de lama em restringir o fluxo de oxigênio e umidade, reduzindo o metabolismo da fruta e limitando a proliferação de fungos e bactérias. O efeito é comparável ao de um recipiente plástico, embora com uma capacidade superior de absorção de líquidos. Este processo mantém a umidade controlada e reduz a presença de microrganismos que poderiam comprometer a qualidade das uvas. A entrada gradual de oxigênio e a concentração de dióxido de carbono dentro dos recipientes retardam a deterioração, permitindo o consumo da fruta fresca até meses depois da colheita.
Para além de ser um método utilizado localmente, a kangina é também aplicado por comerciantes afegãos que transportam as frutas para venda nos mercados, mantendo-as intactas e seguras durante o transporte.
Registos da prática de preservação de uvas através de lama e palha remontam ao século XII, como mencionado no “Livro da Agricultura” do agrónomo Ibne Alauame. Este árabe muçulmano, que viveu em Sevilha, na Espanha, descreveu o uso de recipientes de vidro selados com lama na preservação de uvas em Andaluzia, demonstrando que o conhecimento sobre conservação natural de alimentos já era partilhado e valorizado no Mediterrâneo medieval.
Esta técnica secular, que alia a simplicidade dos recursos naturais à necessidade de preservação alimentar, como nos conta o site Casa e Jardim, continua a ser uma alternativa sustentável e eficaz para a conservação de alimentos em regiões de difícil acesso.
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