Normalmente, ao pensarmos no clima português, imaginamos que chove mais no inverno do que no outono. E, de facto, isso foi verdade até há alguns anos. Mas o que mudou? E o que nos reserva o futuro? Descubra mais neste artigo, com a colaboração de Alfredo Graça, especialista da Meteored Portugal.
“Num país como Portugal – de dimensão média à escala europeia – a distribuição da chuva não é uniforme, isto é, não cai da mesma forma em todas as regiões. A irregular distribuição pluviométrica deve-se, essencialmente, a inúmeros fatores de índole geográfica e climática”, explica Alfredo Graça.
De acordo com o especialista, Portugal possui, em termos gerais, um clima temperado mediterrâneo, caracterizado por verões quentes ou moderados e secos, invernos chuvosos e outonos e primaveras agradáveis, com condições climáticas variáveis.
No entanto, o clima em Portugal apresenta também mais duas variantes: o clima temperado mediterrâneo com influência marítima, predominante nas regiões a norte do sistema montanhoso Montejunto-Estrela e nos Açores; e o clima temperado mediterrâneo com influência continental, típico do interior Norte e Centro. Estas especificidades geram diferenças significativas na distribuição e quantidade de precipitação (medida em milímetros), criando variações importantes no padrão de chuvas. É importante referir ainda a presença de microclimas no arquipélago da Madeira, que enriquecem a diversidade climática nacional.
Segundo dados da normal climatológica de 1991-2020 do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), a quantidade de precipitação em Portugal é bastante variável. Nas regiões mais secas do sul do continente, como Portalegre, Évora, Beja e Faro, a precipitação anual ronda os 500-600 mm ou até menos. Já no Minho e nos Açores, esses valores podem alcançar os 1300 mm, como é o caso de Viana do Castelo, Braga e Ponta Delgada, ou até ultrapassar entre 1500 e 3000 mm nas áreas montanhosas, como o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o Grupo Ocidental dos Açores (Corvo e Flores).
Será que chove mais em Portugal no outono ou no inverno?
“O outono climatológico em Portugal dura entre 1 de setembro e 30 de novembro e caracteriza-se por um aumento notável da precipitação, especialmente nos meses de outubro e novembro. Durante este período, a influência das tempestades atlânticas torna-se mais evidente, provocando um aumento da atividade meteorológica. Também é ocasional a formação de gotas frias que podem provocar fortes aguaceiros e trovoada nalgumas zonas do país onde é mais raro chover”, refere Alfredo Graça.
Segundo os dados do IPMA para o período de referência de 1991-2020, a precipitação média do outono climatológico em Portugal apresenta variações significativas: no Alentejo, a precipitação acumulada situa-se entre 150 e 300 mm, enquanto no Algarve varia entre 200 e 400 mm.
Por outro lado, as regiões do norte e as áreas insulares registam valores consideravelmente mais elevados, superiores a 500 mm. Destacam-se o Minho, com cerca de 800 mm ou mais em zonas montanhosas, e os Açores, onde os valores variam entre 800 e 1600 mm.
Já o inverno climatológico, “que se estende de 1 de dezembro a 28 ou 29 de fevereiro, é um período importante no que concerne à precipitação em Portugal. Ao longo desta estação, as depressões atlânticas tornam-se mais frequentes e afetam a nossa geografia, o que se traduz num aumento brutal de chuva. Por outro lado, os períodos de acalmia (condicionados pelo anticiclone) também não são raros”, explica o especialista.
No inverno, assim como no outono, a quantidade de precipitação varia bastante consoante a localização. Nas regiões Norte e Centro, em áreas montanhosas como as serras do Gerês e da Estrela, a chuva pode ultrapassar os 1000 mm, enquanto em cidades como Viana do Castelo, Braga e Porto, os valores médios situam-se entre 600 e 800 mm.
Por outro lado, no sul do país – Alentejo e Algarve – as regiões mais secas do interior, como Évora e Beja, registam valores médios entre 100 e 200 mm. No distrito de Faro, os valores também tendem a ser baixos, embora ligeiramente superiores aos do Alentejo, variando entre 150 e 300 mm, com níveis mais baixos no interior e no Sotavento e mais elevados no Barlavento.
Sendo assim, qual é a estação mais chuvosa?
Segundo, Alfredo Graça, a resposta à pergunta sobre qual é a estação mais chuvosa em Portugal varia bastante conforme a localização geográfica. Contudo, considerando o país como um todo, pode-se afirmar que, de forma geral, o inverno tende a registar uma precipitação acumulada superior à do outono nas três unidades territoriais portuguesas: Continente, Açores e Madeira.
“De acordo com os dados da normal climatológica 1991-2020 e dos relatórios de monitorização climática publicados anualmente pelo IPMA pode-se constatar que a precipitação acumulada no inverno é superior à do outono em Portugal Continental, sobretudo nas regiões Norte e Centro. Em contrapartida, nos Açores e na Madeira, ambas geografias insulares, esta diferença entre estações é menos acentuada e, nalgumas ocasiões, o outono pode somar mais precipitação”, explica.
Explicitação sobre o impacto das alterações climáticas na precipitação
“Com as alterações climáticas em curso, o panorama da precipitação em Portugal pode estar prestes a mudar. Nos últimos três anos, fora do período analisado nos gráficos anteriores, o outono passou a liderar a acumulação de precipitação à escala continental, destacando-se os anos de 2022 e 2023, por oposição a 2021 quando o inverno superou o outono, algo que corresponde ao que é esperado. Tendo esta recente alteração em conta, o que é que poderá acontecer no futuro?”, questiona.
Ano | Precipitação acumulada no outono | Precipitação acumulada no inverno |
---|---|---|
2021 | 173,4 mm | 342,9 mm |
2022 | 326,4 mm | 187,6 mm |
2023 | 376,5 mm | 173,3 mm |
Fonte: IPMA |
O que nos reserva o futuro?
De acordo com o especialista, “o futuro poderá trazer perturbações significativas, especialmente com o aumento dos fenómenos extremos. Estes fenómenos significam que, embora um inverno possa parecer seco em média, uma única tempestade ou chuvada torrencial pode acumular num dia o que normalmente choveria durante toda a estação”.
Embora esses dados possam compensar o total anual, não significa que o inverno tenha sido consistentemente húmido. A precipitação tende a concentrar-se em eventos de grande intensidade, deixando o restante da estação com pouca chuva.
Em geral, embora as variações em Portugal não sejam extremamente acentuadas, observam-se mudanças sazonais e geográficas importantes, que estão a tornar-se cada vez mais irregulares.
Esta alteração afeta a distribuição e a regularidade da precipitação em todo o país. Regiões com invernos geralmente secos, como o Alentejo e o Algarve, podem experienciar chuvas intensas em períodos curtos, criando a ilusão de uma estação húmida, quando, na verdade, há um desequilíbrio.
As projeções climáticas indicam que esta variabilidade na quantidade e distribuição da precipitação continuará a crescer, tornando fundamental o acompanhamento destas mudanças para entender melhor os seus impactos no clima português.
Leia também: Dê uma vista de olhos na carteira. Esta moeda rara de 2€ pode valer mais de 2.500€