Investigadores da Universidade do Algarve (UAlg) conseguiram reconstituir o nível do mar através da análise de sedimentos de praia e dunas na península de Tróia e verificaram que houve uma subida constante desde há 6.500 anos até final do século XX.
A equipa do Centro de Investigação Marinha e Ambiental (CIMA) da UAlg, que publicou as conclusões do seu trabalho na revista Scientific Reports of Nature, constatou também que se assistiu a “uma aceleração da subida do nível do mar nos últimos 50/60 anos”, que pode estar relacionada com o aquecimento global, disse a coordenadora do estudo, Susana Costas.
A investigadora explicou à agência Lusa que as dunas podem estar, por exemplo, a oito metros do nível do mar e a equipa conseguiu “tirar imagens do subsolo para perceber onde as ondas depositaram sedimentos” ao longo do tempo para perceber “onde se localizava o nível do mar” em determinada época.
“Tirámos imagens do subsolo para ver como estavam colocadas as camadas de sedimentos de praia e dunas. E com essas imagens, que temos georreferenciadas, digitalizámos a posição dos depósitos de praia, que são os que se depositam quando há boas condições de ondulação e geram o crescimento da praia”, precisou Susana Costas.
Assim, os investigadores conseguem perceber “a que nível, a que altura, as ondas colocaram sedimentos”, retirar amostras dessa localização e perceber a idade destes depósitos.
“Nas praias não podemos recorrer a datação por carbono 14 e conseguimos fazer a datação através de amostras de quartzo, detectando quando foi a última vez que apanhou luz directa do sol”, afirmou.
Os resultados obtidos podem, segundo a informação disponibilizada pela UAlg em comunicado, contribuir para o conhecimento da variabilidade do nível do mar nos últimos sete mil anos no sudoeste da Europa.
O estudo constatou que “a taxa de subida do nível do mar foi relativamente constante desde há 6.500 anos até ao século XX”, crescendo 0,31 milímetros por ano, tendo passado para 1,69 milímetros por ano” nos últimos 50 anos, o que pode, segundo os investigadores, “estar relacionado com o aquecimento global recente”.
“A curva do nível do mar que o grupo do CIMA e da East Carolina University elaboraram constitui um avanço científico significativo, dada a sua elevada resolução na compreensão das mudanças do nível do mar para o período referido, e possibilitará a melhoria do presente modelo isostático. Contribuirá, também, para a elaboração de futuros trabalhos de arqueologia ou evolução paleoambiental das zonas costeiras”, adiantou a UAlg.