A equipa coordenada por Mário Mendes, investigador do Centro de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Algarve, descobriu recentemente uma nova espécie de esporo atribuível a fetos da família Anemiaceae. A nova espécie, designada com o nome científico Costatoperforosporites friisiae, até hoje, apenas foi identificada nas paleofloras portuguesas.
“A descrição desta nova espécie, no âmbito de estudo que pretende compreender as condições paleoambientais que presidiram à radiação e desenvolvimento das angiospérmicas (plantas com flor), constitui, sem dúvida, um excelente contributo para a Ciência e para o avanço da Paleobotânica no nosso país, já que esta área se encontra ainda muito pouco explorada”, salienta a UAlg em comunicado de imprensa.
Por um lado, este esporo vem acrescentar novo conhecimento à diversidade das palinofloras do Cretácico da Bacia Lusitaniana. Por outro, a associação de vegetais fósseis até agora estudada na jazida fossilífera de Catefica, no concelho de Torres Vedras, sugere que no Cretácico Inferior, o interior Sul da Bacia Lusitaniana encontrava-se coberto por vegetação relativamente aberta, que prosperou em condições quentes e sazonalmente secas.
Investigação tem suscitado grande interesse nos investigadores de outros países
As angiospérmicas desenvolveram-se a partir do Cretácico Inferior, há cerca de 135 milhões de anos e actualmente dominam a vegetação terrestre. Em Portugal, o Cretácico encontra-se bem representado e tem características que permitem acompanhar a evolução florística desde o Cretácico Inferior, com predomínio dos fetos, coníferas, ginkgos, cycas, Bennettitales e outros grupos de plantas já extintos, até o Cretácico Superior onde as angiospérmicas colonizaram quase todos os ecossistemas terrestres. Contudo, apesar dos estudos desenvolvidos, muitos aspectos relacionados com a evolução angiospérmicas continuam ainda por esclarecer.
As plantas são organismos extremamente sensíveis às alterações climáticas em escala continental, constituindo testemunho de modificações paleoambientais que afectaram o ambiente terrestre.
Segundo Mário Mendes, “o estudo das plantas fósseis tem grande interesse paleoecológico, pois permite tirar ilações acerca da paleoclimatologia local e regional dessa época, designadamente no que se refere a anomalias de temperatura e de precipitação”. Através do projecto CretaCarbo deu-se início à realização de estudos com o objectivo de perceber as condições paleoambientais que presidiram à radiação e diversificação ecológica das angiospérmicas no Cretácico Inferior da Bacia Lusitaniana, bem como a evolução dos ecossistemas terrestres através do tempo.
Os resultados desta investigação, que tem suscitado grande interesse por parte de inúmeros investigadores de outros países, como França, Japão, Suécia, Alemanha e Espanha, foram recentemente publicados numa revista científica de circulação internacional indexada no ISI Web of Science.
O Projecto CretaCarbo (PTDC/CTE-GIX, 113983/2009), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), teve ainda como parceiros a Universidade de Coimbra e a Universidade Nova de Lisboa.