Cada um pagou €500 para atravessar de El Jadida, em Marrocos, até ao Algarve, revelou ao Expresso fonte da investigação.
São 430 quilómetros de um mar picado, com correntes mais fortes do que noutros pontos da travessia do Mediterrâneo. À ilha do Farol, em Faro, chegaram 21 homens, todos jovens adultos entre os 20 e os 30 anos. São o quinto grupo a desembarcar em Portugal em oito meses.
O preço da viagem apenas cobre o caminho até Portugal, que é a porta de entrada para seguirem para outros países europeus — e para isso é preciso pagar mais. “Já há gente a ganhar dinheiro com isto”, diz ao Expresso fonte próxima da investigação. Ainda assim, é menos do que os preços exigidos noutras travessias entre o Mediterrâneo e a Europa, que ultrapassam várias vezes os €1000. Para sair da Líbia, por exemplo, há relatos de pessoas que pagam €5000.
Embora sob investigação, Marrocos-Portugal não é para as autoridades nacionais uma rota migratória. E também está longe de poder ser comparada com as chegadas a Espanha (7214 pessoas em 2020), Itália (11.191) ou Grécia (8080). No Algarve, nos últimos oito meses, entraram 69 homens.
Esta terça-feira, perto das 20h, foi dado o alerta: uma pequena embarcação estava na praia da ilha do Farol, em Faro. A bordo, 21 homens sem documentos e que dizem ser marroquinos. Viajaram numa embarcação “de madeira”, “semelhante” a outras que chegaram anteriormente à costa algarvia. Tinham um motor de reserva, alguns telemóveis e comida.
DETIDOS NA PRISÃO DO LINHÓ
Depois de terem sido ouvidos esta quinta-feira no Tribunal Judicial de Faro, por entrada e permanência irregular em território nacional, os marroquinos foram levados para Lisboa, onde, devido à sobrelotação dos centros de acolhimento do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), foram instalados no estabelecimento prisional do Linhó, em Sintra, numa ala separada dos restantes reclusos que ali cumprem pena. “Vão aguardar trâmites do processo de afastamento que lhes vier a ser instaurado”, pode ler-se na nota divulgada pelo SEF.
A detenção pode prolongar-se até 60 dias, mas em qualquer momento os homens podem avançar com um pedido de proteção internacional. Até agora, ainda não o fizeram.
No caso da anterior chegada (22 homens intercetados a 15 de junho na praia de Vale do Lobo), também ninguém pediu asilo. Os homens estão em Portugal e aguardam pela extradição, que tem sido adiada devido à falta de voos para Marrocos. O Expresso sabe que um deles, entretanto, já terá fugido do país.
Do total de 69 migrantes que entraram em Portugal, apenas um ficou com o estatuto de refugiado e deve permanecer no país — é menor de idade, chegou sem familiares, está entregue ao Conselho Português para os Refugiados, vive em Lisboa e estuda no 10º ano. Dos restantes, ou não pediram asilo ou viram os pedidos recusados. Entretanto, pelo menos 13 fugiram, 8 deles ainda antes de serem ouvidos pelas autoridades nacionais.
ACORDO EM CIMA DA MESA
Questionada pelo Expresso, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) refere que “não é possível especular se vai emergir uma nova ou significante rota na Europa”. No entanto, admite a possibilidade de que esta seja uma nova tendência. “Como isto se vai desenvolver no futuro depende de vários fatores, incluindo da forma como as autoridades [de Marrocos e Portugal] vão reagir.”
O Governo voltou esta semana a recusar que Portugal faça parte de uma rota. A propósito de outros desembarques, o ministro da Administração Interna disse mesmo que o país “não pode cair no ridículo” de achar que se trata de uma nova trajetória.
Atualmente, o Governo está a negociar um acordo com Marrocos para promover um mecanismo de migração legal, que deve passar por medidas que facilitem a procura de emprego a cidadãos marroquinos.
Portugal já entregou a sua proposta e espera agora uma resposta do lado de Marrocos. Há outros acordos a serem negociados com países como a Moldávia ou membros da CPLP.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL