A vice-presidente do Parlamento Europeu (PE), a social-democrata grega Eva Kaili, está entre os cinco detidos na Bélgica no âmbito de uma investigação sobre um alegado lóbi ilegal do Catar destinado a influenciar decisões políticas em Estrasburgo, segundo a imprensa belga.
Eva Kaili, que ocupa uma das 14 vice-presidências do PE, foi detida na tarde desta sexta-feira no âmbito desta investigação e a sua casa alvo de buscas pelas autoridades, noticiaram os jornais “Le Soir” e “Knack”. Fonte ligada ao processo adiantou à agência France-Presse (AFP) que Eva Kaili foi “detida para ser interrogada” pela polícia.
Em Atenas, o Partido Socialista Grego (Pasok-Kinal), do qual Kaili é membro, anunciou hoje à noite que esta foi “demitida”.
A polícia de Bruxelas realizou hoje 16 buscas domiciliárias e efetuou as detenções, entre as quais o companheiro de Kaili, atual colaborador ligado ao grupo dos Socialistas e Sociais Democratas no PE, adiantaram as mesmas fontes.
“Le Soir” e “Knack” tinham avançado esta manhã a existência de uma investigação sobre um alegado caso de corrupção, organização criminosa e branqueamento de capitais iniciado pela Procuradoria-Geral da República da Bélgica em julho, por suspeita de que o Qatar teria tentado influenciar o posição do PE.
“Há vários meses que investigadores da polícia suspeitam que um Estado do Golfo tenta influenciar as decisões económicas e políticas do Parlamento Europeu”, adiantou, hoje de manhã, o Ministério Público Federal belga em comunicado.
Este Estado teria executado esta estratégia através do “pagamento de quantias substanciais de dinheiro, e oferecendo presentes importantes a terceiros, a pessoas com uma posição política ou estratégica importante dentro do Parlamento Europeu”, acrescentou.
Embora o Ministério Público belga não mencione explicitamente o Catar, os dois meios de comunicação belgas citam várias fontes que confirmaram que se trata do país que organiza o Mundial de futebol. No âmbito da investigação liderada por um juiz especializado em crimes financeiros, as buscas domiciliárias centraram-se em assessores parlamentares do PE.
Ainda segundo o “Le Soir” e “Knack”, entre os detidos estão o ex-deputado italiano do grupo dos Socialistas e Democratas (S&D), Pier Antonio Panzeri, bem como o recém-eleito presidente do Confederação Internacional de Sindicatos, Luca Visentini, o companheiro da vice-presidente do PE e um diretor de uma organização não-governamental.
Panzeri foi eurodeputado da bancada socialista e democrata durante três mandatos, de 2004 a 2019 e foi presidente do subcomité de direitos humanos do Parlamento Europeu.
Visentini tem ocupado cargos de relevo em vários sindicatos europeus, há vários anos, tendo sido eleito secretário-federal da CES em março de 2011, passando a secretário-geral em 2015, cargo confirmado em 2019.
O Ministério Público confirmou que durante as buscas foram apreendidos equipamentos informáticos, telemóveis e cerca de 600 mil euros em notas.
Ainda segundo os jornais belgas, foi localizado meio milhão de euros em numerário na casa de Panzeri, atualmente presidente da associação Fight Impunity, dedicada ao combate à impunidade por graves violações de direitos humanos ou crimes contra a humanidade.
Questionado sobre a investigação, um porta-voz do Parlamento Europeu disse à agência Efe que a instituição “não comenta processos judiciais” e que, “como sempre, coopera plenamente com as autoridades nacionais responsáveis”.
Por outro lado, o grupo dos Socialistas e Democratas no Parlamento Europeu referiu, em comunicado, estar “consternado com as acusações de corrupção nas instituições europeias”, crime para o qual garante ter “tolerância zero”, e que está disposto a cooperar “totalmente” com as autoridades judiciais para apoiar uma “investigação minuciosa e divulgação completa”.
“Perante a gravidade das denúncias, até que sejam prestadas informações e esclarecimentos relevantes por parte das autoridades competentes, solicitamos a suspensão dos trabalhos sobre quaisquer dossiers e votações em plenário relacionados com os Estados do Golfo, em particular a liberalização de vistos e visitas planeadas”, defendeu ainda este grupo na nota de imprensa.