A tavirense Sara Alexandra Alexandre partilhou indignada o seu testemunho sobre o caso da jovem de 23 anos que foi ontem retirada da água, na Ilha de Tavira, em estado inconsciente por uma amiga e um popular, conforme noticiou o POSTAL.
Segundo o seu relato, apoiado nas redes sociais por várias pessoas que assistiram igualmente à ocorrência, a “vida [da jovem] esteve por um fio durante duas horas” à espera de ser socorrida.
Sara Alexandre disse ao POSTAL que “a equipa médica chegou à ilha de barco e ficou no cais; não levaram o barco até a costa que era onde estava a vítima. A equipa foi transportada do cais até a vítima no trator de Alexandre Figueiredo (proprietário do Xiri Beach Bar). Se não fosse ele, levariam mais 15 minutos a chegar”.
No entanto, fonte do Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Faro indicou ao POSTAL que a ocorrência foi participada pelo INEM ao CDOS às 17:43 – onze minutos depois do piquete do Comando-local da Polícia Marítima de Tavira receber a primeira alerta. O registo da chegada da equipa dos bombeiros foi às 17:50 e a saída do helicóptero do heliporto de Loulé às 17:57.
Segundo o CDOS, a vítima, de nacionalidade angolana, foi transportada às 19:42 em estado grave de helicóptero para o Hospital de Faro.
O testemunho de Sara
Escreve Sara que “hoje [sábado], pelas 17:20, estávamos em amena cavaqueira na Ilha de Tavira quando alguém grita ‘salvamento’. O cenário que nos deparamos, quando chegamos à beira da água, foi assustador: uma rapariga resgatada do mar estava quase sem vida, com quase nenhuns sinais”.
Diz a Sara que “eram 17:20” e que “a fotografia do helicóptero a levantar voo das Quatro Águas foi tirada as 19:42. Portanto, passaram 2 horas e 22 minutos após a ocorrência. Esperamos duas horas por ajuda médica”.
Sara agradece a várias pessoas que prestaram os primeiros socorros à vítima, “não só pela assistência, persistência e sangue frio. (…) bem haja por jamais terem abandonado uma vida. Mediram sinais vitais, aqueceram [a vítima] com as mãos e jamais desistiram daquela vida”.
Salienta que “aquela vida esteve por um fio durante duas horas” e pergunta: “porque não pode um helicóptero aterrar na praia? Porque não está o barco de assistência na água quando já existe carreira para a ilha, independentemente de a época balnear estar aberta?”.
O desfecho desta história
“Após duas horas de espera, dez pessoas tentam agarrar uma vida. O Loi [proprietário do Xiri Beach Bar], com toda a sua experiência e sensatez, mobilizou dez pessoas inexperientes para salvar uma vida. Posição de segurança, aquecer a vítima na manta térmica e com as toalhas que tínhamos”, acrescentando que o “helicóptero aterra no náutico após duas horas. Ajuda especializada na ilha, ZERO. Ajuda por mar, nada. Telefonicamente somos contactados. A ajuda chegou ao cais. Vem pelo próprio pé, mas só que não”.
Explica a Sara que “o Loi pega no trator e vai buscar a equipa. Após duas horas de desespero chega a equipa especializada e quem esteve a agarrar aquela vida por um fio muito ténue foi escorraçada”.
“Deixem nos trabalhar” foi o que disseram a equipa especializada. “E fizeram o seu trabalho. É um facto. Mas fizeram no porque as pessoas acima mencionadas nunca abandonaram aquela vida. Nunca. Ao contrário, [a equipa especializada] só la iam tirar a hora do óbito”.
“Aos profissionais, o meu muito não obrigado. Não pelo profissionalismo, mas sim por serem filhos do sistema. São apenas um dano colateral do mesmo. Não fazem mais porque não vos AUTORIZAM”, lamenta Sara.
“Quero deixar uma mensagem muito especial a uma profissional de saúde que não sei se é médica ou enfermeira, mas para mim tanto faz. Para quem trabalha com a vida humana devia ter mais humanidade. Mas a essa senhora a humanidade não lhe assiste: após duas horas a tentar agarrar uma vida este estafermo sacode a mãozinha com tamanha arrogância e diz – ‘se precisam de ajuda, tá aí a psicóloga’. Ouviu a resposta que queria, ou não, respondi com todas as letrinhas que: – ‘nós não precisamos de ajuda. Esta rapariga é que precisava de ajuda e esperou 2 horas por ela’. Mas a menina, que não lhe assiste a humanidade, sentiu-se ofendida e atingida e ainda se armou em bruta. A ela lhe desejo todo o bem do mundo e que nunca alguém chegado lhe aconteça igual ou parecido”.
A indignação de Sara tem a solidariedade explícita em muitos outros comentários deixados nas redes sociais, mas para Sara Alexandre esta situação tem que servir de exemplo e “servir para memória futura. A culpa aqui vai morrer solteira! Ah, porque a época balnear não está aberta. Se a época balnear não está aberta oficialmente, não abram a carreira e assim cada um vai a sua sorte”.
“Se a culpa é da câmara, do domínio marítimo, do ISN, ou da PQP… Eu só não quero é que alguém morra nesta ilha, na minha cidade”, desabafa emocionada Sara que diz estar “envergonhada, chocada, triste e nervosa”.
“Hoje salvamos alguém. Não esperamos agradecimento. Esperamos que o sistema funcione. Mas sabemos que não” e acrescenta que “tinha mais informação para dar acerca dos intervenientes especializados, mas não o faço porque eles próprios são vítimas do sistema”.
Por fim, conclui que “aquela menina rabina, com a mania que é DOUTORA, vai levar um cartão vermelho. É só uma questão de saber o nome da menina e a queixa seguirá. A menina está bem e estável”.