No dia em que André Ventura confirmou ter feito um teste PCR positivo à Covid-19, a página no Facebook do partido em Vila Real publicou um texto espalhando uma conspiração – em jeito de desculpa para o seu líder não se ter ainda vacinado.
“Dizem que ele não tomou a vacina. Não o podemos criticar. Duvidam que se o André chegasse ao centro de vacinação cheio de funcionários do governo socialista do António Costa não lhe iam tentar injectar veneno mal percebessem que era ele? Todo o cuidado é pouco e recomendo aos militantes do CHEGA que não se identifiquem como tal quando vão tomar a vacina. Incomodamos muita gente e vão fazer de tudo para nos parar. Tomem cautela”, aconselha o post.
Até aqui, o líder do partido limitou-se a dizer que não tomou ainda qualquer dose da vacina – apesar de a sua faixa etária já estar praticamente coberta pela vacinação em todo o país – com o seu trabalho político, mas também com uma “decisão pessoal” que ainda não tinha tomado. À CMTV – televisão onde foi comentador – Ventura admitiu que “neste momento já podia ter agendado, mas não tinha tomado esta decisão pessoal, por causa da atividade política muito ativa”, disse, assumindo depois que “agora tenho que assumir as consequências”.
Entretanto, ao Observador, juntaria mais um dado, alguma desconfiança face às vacinas hoje existentes: “Não é uma questão de ser estruturalmente contra as vacinas por uma ou outra razão. Quero ter mais elementos científicos sobre a vacina, como pessoa responsável. Sei que para outros é suficiente o que existe mas eu quero ter mais informação sobre a vacina e acho que estou no meu direito”. E juntou uma crítica aos certificados de vacinação: “Com as atuais exigências dos certificados, estão na prática a tornar a vacina obrigatória”.
Certo é que, entre o trabalho político de Ventura, encontram-se algumas manifestações contra a utilização de certificado Covid para dar acesso mais livre a serviços como a restauração, mas também – antes disso – contra as restrições à pandemia que permaneciam em vigor. Pelo menos numa dessas manifestações, presenciadas pelo Expresso, havia vários negacionistas, incluindo uma manifestante que subiu ao estrado onde estavam o microfone colocado para os discursos e tentou queimar uma máscara cirúrgica com um isqueiro, alegando ser “plástico, só faz mal”.
Em entrevista à TVI, em junho, Ventura evitou comentar as ligações de apoiantes seus a movimentos negacionistas da covid-19, como os “Médicos pela Verdade”, e afirmou que o partido defende a saúde pública. E quando foi questionado sobre o facto de ter surgido em manifestações públicas sem máscara, o presidente do Chega ironizou: “Se fôssemos dizer que éramos negacionistas por não usarmos máscara… quem nunca pecou que atire a primeira pedra”.
Facto é que André Ventura terá de se defender em tribunal da acusação de ter cometido um crime de desobediência por jantar-comício nas presidenciais – por, em pleno estado de emergência e ao arrepio de um parecer da DGS, ter concentrando cerca de 170 apoiantes em 450 metros quadrados num salão sem ventilação nem distanciamento físico.
Agora, no mesmo post, a distrital de Vila Real sugere mais ainda: seguindo a linha discursiva que fez caminho, por exemplo, nos EUA com o próprio ex-Presidente Trump, diz que a Covid “foi criada na China”.
Mas para Ventura a distrital do partido deixa uma mensagem de esperança: “A Nossa Senhora de Fátima está com ele e não vai permitir que um dos seus escolhidos sucumba a uma doença criada na China para destruir o Chega”. Esta segunda-feira, o partido confirmou que Ventura apresenta sintomas como “tosse ligeira e dores nas costas”, continuando assim em isolamento.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso