A construção do Hospital Central do Algarve, aquela que seria a unidade de referência nos cuidados de saúde a sul do Tejo e que permitiria uma resposta melhorada e adequada às necessidades da região do Algarve, foi alvo de concurso público em 2008 e chegou a ter dois consórcios seleccionados para avançarem com o projecto em regime de parceria público-privada.
Com a crise e a redução drástica do investimento público e das malogradas parcerias público-privadas o concurso caiu por terra e a unidade hospitalar que seria construída no Parque das Cidades, entre Faro e Loulé, junto à Via do Infante, numa área de 77 mil metros quadrados e com capacidade para responder a uma população de cerca de 800 mil habitantes – dadas as necessidades de capacidade de resposta ao crescimento exponencial de população da região durante a época alta – tem-se mantido como um assunto em que ninguém, nem Governo, nem oposição quer pegar.
O silêncio parece agora quebrado, com Pedro Nunes, administrador do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), a revelar que em cima da mesa, como alternativa, está uma proposta da Administração do CHA ao Governo de investir cinco milhões de euros em obras no actual Hospital de Faro.
O que se pretende fazer
Em declarações à Lusa, Pedro Nunes adiantou que o projecto prevê deslocar o bloco operatório de ambulatório para junto do bloco operatório central e também aumentar a capacidade da unidade de cuidados intensivos coronários de seis para dez camas, além da aquisição de novo equipamento para ambos os serviços.
Segundo o presidente do Conselho de Administração do CHA, o bloco de ambulatório vai ficar no terceiro piso do edifício central do Hospital de Faro, um piso abaixo do local onde já funciona o bloco central, ficando ambos ligados através de um acesso interior, para potenciar os recursos humanos e aumentar a segurança no transporte dos doentes.
Projectos existem há já dois anos e podem ver desenvolvimento este ano
Aquilo que era tema tabu para as hostes partidárias da região e mesmo nacionais pelos vistos tinha resposta desenhada há bastante tempo.
De acordo com Pedro Nunes, “os projectos de alteração já estão feitos há mais de dois anos”, sendo que a administração do centro aguarda ainda, revela a Lusa, a aprovação do Ministério da Saúde para avançar, embora Pedro Nunes esteja confiante de que deverá haver luz verde do Governo para se conseguir lançar as obras ainda este ano.
CHA saldou as dívidas
“Este investimento só é possível no Algarve na medida em que os hospitais estão articulados e já se faz uma gestão conjunta”, argumentou, sublinhando que as poupanças decorrentes da criação do centro hospitalar, há um ano e meio, e, sobretudo, a injecção de capital por parte do ministério em 2014, permitiram liquidar uma dívida de 120 milhões de euros.
“Com o último aumento de capital social, de 24 milhões de euros, no final de 2014, e mais dez milhões de euros do orçamento do hospital, conseguimos pagar a dívida”, afirmou aquele responsável, ressalvando que a administração conseguiu normalizar a situação financeira do centro no ano passado e que actualmente “não gasta mais do que o orçamento”.
Segundo Pedro Nunes, o orçamento do CHA para este ano ainda não está fixado, mas o orçamento anual é de aproximadamente 180 milhões de euros, pelo que, mesmo que se avançasse com a obra do Hospital Central do Algarve, cinco milhões de euros representariam apenas um pequeno investimento.
“Não é por mais cinco milhões de euros que não se investe no velho hospital, sobretudo enquanto não tivermos capacidade para construir um novo”, afirmou, argumentando que o equipamento novo que se for adquirindo pode sempre ser aproveitado e transferido para um novo hospital.
O CHA – criado em 2013 e que integra as unidades de Faro, Portimão e Lagos, foi alvo de dois aumentos de capital em 2014 – um primeiro, de 69,4 milhões de euros e um outro mais recente, de 24,6 milhões de euros -, o que permitiu ao centro sair da situação de falência técnica e iniciar 2015 sem dívidas.
Remendos ditam o destino do hospital central
As obras sucessivas no sentido de melhorar a capacidade actual de resposta das unidades do CHA ditam assim a morte a médio prazo do hospital central e as promessas de um hospital central de referência na região. Em 2014, o centro tinha já investido na renovação de equipamentos em vários serviços, nomeadamente, com a aquisição de um novo equipamento para ressonância magnética no hospital de Portimão, que vai agora ser instalado, e de um sistema de navegação para neurocirurgia e cirurgia na especialidade de otorrinolaringologia.
Já em Janeiro de 2013 tinha sido inaugurado um novo espaço contíguo às urgências do Hospital de Faro, uma área de Decisão Clínica com 560 metros quadrados, criada de raiz, e que custou 600 mil euros.
Com o fim do projecto do hospital central cai por terra também a ambição do Curso de Medicina da Universidade do Algarve de ver ali criado espaço para uma verdadeira integração do curso na estrutura dum hospital de primeira linha como acontece com as faculdades de medicina de Lisboa, Porto e Coimbra.