A necessidade de contar e de ouvir histórias acompanha o homem desde os tempos mais primordiais. Histórias sobre o desconhecido, fadas, bruxas, animais que falam ou maldições, eram partilhadas em comunidade, visando dar significado ao que a razão desconhecia. O mundo era desvendado por palavras mágicas, que tinham o poder de adivinhar as incógnitas da natureza e de despertar os ouvidos mais desatentos.
As crianças aprendiam a falar e a socializar por imitação do adulto e das histórias por ele transmitidas, numa interligação entre o mundo imaginado e o seu quotidiano familiar.
Atualmente, apesar do permanente significado e escrutínio científico, continua a ser através das histórias que lhe são apresentadas, que a criança constrói o seu mundo imaginário e, mais ainda, o começa a vivenciar e a descodificar, distinguindo a sua realidade, da narrativa do «faz-de-conta».
Através da narrativa oral a criança descobre a riqueza dos sons, do ritmo, das diferentes expressões, das palavras que se armazenam na sua memória. Simultaneamente constrói outras histórias, explorando e desenvolvendo, enquanto ouve, o seu lado emocional.
Pais, educadores de infância, professores, dinamizadores de bibliotecas, e outros intervenientes educativos – sabem como é imprescindível, para um desenvolvimento harmonioso da criança, estimular esse mundo do imaginário e da fantasia – pois ele é, sem dúvida, um fator essencial para o desenvolvimento da reflexão, do espírito crítico e da participação ativa na sociedade.
Assim, as atividades de leitura e escrita, contextualizadas na realidade da criança, constituem-se como atividades de extrema importância, pois permitem uma fonte de exploração e de tomada de consciência sobre as características, não só do código escrito, como, independentemente da sua idade, da leitura que faz do mundo.
Ouvir e contar histórias, enquanto atividade regular, permite que as crianças interajam enquanto ouvintes e enquanto contadores de histórias; promovendo em ambos os casos capacidades de escuta, de leitura, de compreensão e de partilha de ideias.
A criança, acostumada a ouvir histórias, desenvolve e estimula a sua imaginação, a base de toda a criatividade; amplia o gosto pela leitura, pela escrita e ganha novas e renovadas visões do mundo.
Contar histórias no cenário educacional é uma das mais eficientes ferramentas pedagógicas que temos.
No seu papel impulsionador da sociedade, as bibliotecas públicas e as escolares, oferecem, através das Horas do Conto, o renascer das tradições orais, estabelecendo pontes entre a narrativa da história oral e os livros.
Seja nas sessões dirigidas às turmas que visitam as bibliotecas, como nas sessões abertas às famílias – as crianças não aprendem apenas regras de comportamento, aprendem a crescer cidadãos.
Vanda Prazeres
(Biblioteca Municipal de Albufeira)