Até ao século XV as populações viviam do que a terra lhes dava e de pequenos ofícios. A partir do século XVI, com o advento das viagens marítimas, desenvolveu-se o comércio intercontinental dando início ao que se viria a designar por globalização.
O comércio desenvolveu-se devido aos diferentes recursos e diferentes aptidões de produção de cada região do globo. Os países colonizadores desestruturaram as economias das colónias e reestruturaram-nas segundo os seus interesses. A europa criou tecnologias que lhe permitiram ter vantagens comerciais face a todos os outros países e colónias detidas nos outros continentes, mas quando essas vantagens tenológicas não foram suficientes recorreu-se ao esclavagismo, à semelhança de civilizações antigas, criou-se o mercado negreiro.
Os termos de troca no comércio internacional, comparação das importações e exportações em volume e preço entre dois países, foram sempre desfavoráveis aos países pobres e continuam a piorar. A europa, os EUA, o Canadá e Japão, vendem produtos de consumo final com grande incorporação de valor acrescentado, e compram as matérias primas baratas aos países pobres. São aqueles países que têm as empresas de transportes marítimos e aéreos, têm as grandes companhias de seguros, detêm as novas tecnologias através da investigação científica, recebem em depósito as poupanças dos países pobres, este aglomerado de capacidades económicas permite-lhes imporem os preços de mercado a que os países pobres devem vender as matérias primas e comprar os produtos acabados.
Os contratos de cedência de tecnologia, por vezes já ultrapassada, são autênticos contratos de escravatura económica empresarial.
Os investidores dos países ricos adquirem as melhores terras, executam os grandes projetos de investimento com o dinheiro que eles próprios emprestam a juros altos que os países pobres ficam a pagar. Vendem armamento para os pobres se degladiarem, muitas vezes através de elevados empréstimos financeiros. Dominam os governos locais através da corrupção de forma a executarem as políticas que lhes interessam, quando não é suficiente ameaçam ou intervêm militarmente.
A Organização Mundial do Comércio, OMC, foi criada para liberalizar o comércio mundial, abolindo os direitos alfandegários, numa fase em que interessava aos países ricos venderem o máximo possível, sob certas regras que lhes são favoráveis, mas quando essas mesmas regras são contornadas pela realidade económica e passam a ser contra os seus interesses não as cumprem, exemplo EUA.
Este é um rol de mecanismos legais, mas nem sempre morais, que os povos dos países ricos beneficiam da autêntica escravatura dos países pobres. O benefício não é promovido por cada um dos cidadãos dos países ricos, mas pelo sistema capitalista mundial, consolidado ao longo de cinco séculos. A este propósito convém ler o “Sistema Mundial Moderno” de Immanuel Wallerstein.
Um africano ou um qualquer habitante dos países da periferia económica têm a mesma capacidade de trabalho do que qualquer outro, a diferença começa na escolarização e prolonga-se no modo de produção que se reproduz através das gerações.
Nós com as nossas reivindicações diárias, perfeitamente legitimas, promovemos indiretamente a situação de exploração de outros povos, porque os governantes vêm-se na contingência de terem que seguir as regras do sistema político-económico. Não é por acaso que existe, atualmente, um enorme êxodo das populações das regiões pobres para as regiões mais ricas.
A pobreza e a riqueza reproduzem-se num círculo vicioso ao nível local, regional e mundial.