Os números são o motivo e o princípio de tudo, já dizia Pitágoras, há mais de 2500 anos. Qual o verdadeiro valor do número? Como deve ser interpretado o número? Que ações devem ser tomadas em consequência de determinado número? Estas e outras questões motivam as linhas seguintes, porque aquilo a que temos vindo a assistir recentemente em Portugal poderá ter consequências muito mais perigosas do que parece …
A gestão da pandemia tem arrastado o país para um cenário alarmante e deveras preocupante. São várias as vozes da área económico-financeira que se fazem ouvir, referindo que Portugal poderá vir a enfrentar uma das maiores crises económicas de sempre, consequência de uma desorientação profunda do Executivo, no que diz respeito às medidas impostas na gestão da pandemia de Covid-19.
Não obstante, a maioria dos portugueses tem afirmado, por diversas vezes, em diferentes momentos do tempo, que confia no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia – mesmo após termos liderado a mortalidade no mundo, consequência da Covid-19. Se confiam no Executivo é porque aprovam as medidas/respostas implementadas por este e respetivo planeamento!
Confessamos ter alguma dificuldade em perceber a razão desse crédito, pois não deveria ser necessário recordar que qualquer gestão de uma pandemia não pode ser avaliada tendo apenas como indicador o número total de mortes. Fazê-lo é demasiado redutor e demonstra bem a falta de sintonia com a realidade envolvente, pois, as consequências desta pandemia vão muito mais além desse número, sendo, atualmente, ainda imensuráveis. Além disso, há mais vida para além de quando for declarado o fim da pandemia Covid-19. Se há quem diga que em pandemia as contas são feitas no fim, nós, sinceramente, julgamos que nem no fim vai ser possível fazer essas contas. Vão ser necessários anos, décadas talvez …
Será que esses portugueses que confiam no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia sabem que Portugal é um dos três países com a maior dívida pública da União Europeia?
Será que esses portugueses que confiam no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia sabem que a dívida bruta em % do PIB das administrações públicas (percentagem do PIB da dívida pública acumulada), no ano 2019, situava-se em 116,8% (valor provisório) e no ano 2020 situou-se em 133,6% (valor preliminar) – ou seja, aumentou 16,8%?
Será que esses portugueses que confiam no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia sabem que Portugal viu a sua dívida pública acumulada aumentar em 20.494,2 milhões de euros, em 2020, comparativamente a 2019?
Será que esses portugueses que confiam no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia sabem que o valor da dívida bruta per capita (a dívida pública acumulada, em média por pessoa) aumentou em 2020 oitenta e duas vezes (sim, 82 vezes) mais do que havia aumentado no ano 2019? O valor dessa dívida é agora de 26265,8 euros (valor preliminar).
Outros números poderíamos trazer aqui, números que são suficientemente grandes para, provavelmente, deixar apreensivos muitos portugueses, particularmente aqueles que têm descendentes menores de idade. Mas não é este o nosso propósito – é sim alertar para que esses portugueses que confiam na gestão do Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia, talvez devessem ser mais exigentes e ver para além do número. Sempre foi e sempre será a exigência que nos fará evoluir.
A indiferença não pode ser ingrediente na atitude com que olhamos para a ação do Executivo, no que diz respeito à gestão da pandemia, assim como também não deveria ser sobre outras matérias. A gestão de uma pandemia não pode ser feita única e exclusivamente tendo por base um número – um número que é cada vez menor comparativamente àquilo que já foi e pouco significante perante outros números de outras doenças.
O Executivo falhou e continua a falhar em muitas frentes e, lamentavelmente, não é capaz de fazer autocrítica. Agita números por forma a induzir medo/pânico entre as pessoas. Opta por inúmeras medidas que são ridículas, muitas delas atrasadas no tempo e descontextualizadas, deixando perceber facilmente que não há avaliação das mesmas. Houve e continua a haver uma tremenda falta de respeito por inúmeros portugueses – opções por medidas discriminatórias com base em indicadores pouco fiáveis. Estamos a assistir, na “época mais alta do ano”, à destruição do comércio, da restauração, dos serviços prestados pelos hotéis, pelo alojamento local, … Enfim, da época turística.
Será que esses portugueses que confiam no Executivo no que diz respeito à gestão da pandemia sabem que o rendimento obtido com dormidas, refeições ou outros serviços prestados pelos hotéis, pensões, estalagens, pousadas, aldeamentos turísticos, alojamento local, entre outros, teve uma quebra no ano 2020 e que temos de recuar até ao ano 2001 para encontrar um número inferior? No ano 2020, o rendimento obtido foi três vezes (sim, 3 vezes) menor comparativamente àquele que foi obtido no ano 2019. Nem queremos imaginar a dimensão da “queda” em 2021!
É escandaloso e vergonhoso que determinadas vozes do espectro político que se fazem ouvir em tom perturbador, muitas vezes, sobre temáticas supérfluas, insignificantes e inoportunas, permaneçam agora adormecidas. Serão efeitos colaterais da pandemia?!
Não podemos ser cúmplices nesta narrativa que está a aprisionar-nos lentamente a interesses, muitos deles tóxicos, os quais podem tornar sufocante a vida da maioria dos portugueses. Num passado ainda não muito distante, passámos por dificuldades que deixaram muitas famílias devastadas. Não queremos voltar a repetir … Mas, continuando assim, parece-nos inevitável – infelizmente, tudo leva a crer que a grandeza dos números aqui apresentados ainda será maior depois de concluído o ano 2021.
Perante aquilo que leu até este momento, atrevemo-nos a colocar a seguinte questão: deverá ser a atuação deste Executivo, no que diz respeito à gestão da pandemia, merecedora da sua confiança? Gostaríamos muito que, tal como no conto “Olha, olha! O rei vai nu! …”, não fosse necessário apelar à inocência de uma criança para vermos a resposta óbvia. Consegue ver?