A propagação de gaivotas na cidade de Portimão, onde aproveitam telhados e terraços de edifícios para nidificar, está a incomodar alguns moradores, que se queixam do ruído, da sujidade e do comportamento agressivo que estas aves podem ter.
A viver em Portimão há 50 anos e incomodada com o facto de as gaivotas nidificarem na urbanização onde vive, Lourdes Santos escreveu uma carta à Câmara de Portimão na qual pede à presidente que “devolva as gaivotas onde pertencem, ao mar”, porque estas aves, nos últimos anos, invadiram “a cidade e os arredores”.
Na sexta-feira, a divisão de Ambiente Urbano da autarquia informou-a de que nunca houve controlo de natalidade de gaivotas em Portimão, o que só é possível mediante um projecto aprovado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, entidade à qual já foi feito um pedido de esclarecimento sobre soluções “que permitam minimizar o incómodo causado pelas gaivotas na cidade”.
Aquela moradora aponta o fenómeno como sendo relativamente recente, pois antigamente só se lembra de ver estas aves na zona ribeirinha, junto aos barcos de pesca, e hoje em dia, mesmo na zona onde vive, mais longe do rio, nidificam dezenas de gaivotas, que “começam a piar durante a noite e não se calam mais durante o dia”, além do facto de sujarem carros e terraços.
Domingos Leitão, especialista em Ecologia das Aves, não tem dúvidas de que o aumento das populações de gaivotas em meio urbano se deve ao comportamento dos humanos: as lixeiras e aterros, assim como o peixe descartado na pesca, são fontes alternativas de alimentos quando estes escasseiam no mar.
“A gaivota de patas amarelas, que é aquela mais associada aos meios urbanos, é uma espécie oportunista, que tem capacidade para se adaptar e aprende a utilizar as mais diversas fontes de alimento que a sociedade lhes proporciona”, refere o coordenador do Departamento de Conservação da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
Moradores consideram que deveria haver um controlo de natalidade
João Silva, reformado que vive entre Portimão e Lisboa, considera que deveria haver um controlo de natalidade para travar o aumento da população de gaivotas na cidade, uma vez que há cada vez mais a povoar o centro histórico, junto à Igreja Matriz de Portimão, onde vive parte do ano.
“Há pessoas que põem comida na rua para os gatos, mas quem a come são as gaivotas”, diz à Lusa, contando que, no ano passado, as gaivotas fizeram um ninho na sua varanda, impedindo-o de se aproximar, já que estas aves podem tornar-se agressivas quando se trata de defender as suas crias.
Segundo Domingos Leitão, o facto de as pessoas alimentarem as gaivotas “é um comportamento mais comum do que aquilo que se pensa”, considerando, por isso, que parte da solução se poderia resolver “educando as pessoas”, que não devem alimentar animais selvagens, devendo também ter o cuidado, por exemplo, de não deixar contentores abertos.
Um outro morador com quem a Lusa falou, André Dias, reconhece a existência de alguns problemas associados à proliferação de gaivotas nos meios urbanos, mas considera que é preciso perceber primeiro se existe algum risco para a saúde pública, para depois, eventualmente tomar medidas.
“É preciso fazer um estudo para perceber porque é que as gaivotas se estão a expandir para as cidades e como está a população, para se poder monitorizar”, refere o biólogo, sublinhando que também existem vantagens em ter gaivotas perto de casa, já que estas comem ratos, baratas e outros animais indesejáveis.
André vive perto do rio Arade, no último andar de um edifício de quatro pisos, o “local perfeito” para nidificarem, uma vez que elas preferem os locais mais altos, a partir dos quais se torna mais fácil voarem, tal como faziam quando nidificavam em rochas ou falésias, na costa.
A época de nidificação da gaivota de patas amarelas – a espécie que nidifica em Portimão e noutras zonas do país onde existem grandes portos de pesca, nomeadamente em Matosinhos ou em Peniche – está praticamente a terminar.
(Agência Lusa)