Celeste Caeiro, o rosto associado a um dos momentos mais emblemáticos da história recente de Portugal, faleceu esta sexta-feira aos 91 anos. Foi ela quem, no 25 de Abril de 1974, distribuiu cravos pelos militares que marchavam nas ruas de Lisboa, num gesto espontâneo que se tornou símbolo da Revolução dos Cravos.
Um ato simples que entrou na História
Em 1974, Celeste tinha 40 anos e trabalhava num restaurante na Rua Braancamp, em Lisboa. No dia em que o país acordou para a liberdade, a jovem percebeu a movimentação anormal nas ruas e decidiu ir ao encontro do que estava a acontecer.
“Um dos soldados pediu-me um cigarro. Nunca fumei e tive pena de não o poder ajudar. Ainda olhei em volta para ver se lhe podia comprar um maço mas estava tudo fechado. Disse-lhe ‘Só tenho estes cravinhos’”, recordou Celeste numa entrevista ao Notícias ao Minuto em 2016.
Os cravos que tinha consigo, originalmente trazidos do restaurante onde trabalhava, foram entregues aos soldados. O gesto, despretensioso, transformou-se num dos ícones mais fortes da Revolução e deu um nome ao dia que simboliza a libertação de Portugal da ditadura: a Revolução dos Cravos.
Uma vida marcada pelo 25 de Abril
A memória daquele dia permaneceu viva para Celeste e para os portugueses. Apesar do seu papel discreto, a mulher que ajudou a colorir o 25 de Abril manteve-se como uma figura inspiradora. No último desfile do 25 de Abril, durante as comemorações do cinquentenário da Revolução, Celeste esteve presente na Avenida da Liberdade, recebendo o carinho e a admiração de quem lá se encontrava.
Em 2016, confessou que ainda se “comovia” ao recordar aquele dia histórico. Mas nem todos entenderam a dimensão do momento na altura. A própria mãe, preocupada com as movimentações na rua, terá dito: “Esta rapariga é maluca! Vais levar um tiro!”
Celeste Caeiro deixa para a história o exemplo de como um gesto simples pode transcender barreiras e transformar-se num símbolo de liberdade. A sua morte, confirmada pelo PCP, é um momento de luto, mas também de celebração de uma vida que marcou para sempre a identidade portuguesa.
A neta de Celeste partilhou, numa homenagem nas redes sociais: “Para sempre a minha Avó Celeste! Olha por mim.”
Num Portugal que continua a comemorar a liberdade conquistada naquela madrugada de abril, Celeste permanecerá como a mulher que, sem o saber, levou cor, vida e esperança a um país inteiro.
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