Num momento de pandemia, são muitas as questões sobre o que podemos ou não fazer; como nos devemos comportar e quais os eventos que podem acontecer sem quebrar as normas definidas pelo Governo e pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
É um tempo incerto, onde todos os dias somos confrontados com novos números do boletim epidemiológico e uma nova realidade. O mundo vive momentos de constante atualização e, devido também às dúvidas que pairam no ar, as entidades governamentais e de saúde apresentam decisões que geram mais ou menos alarido junto da população.
O fim do confinamento, a saída do estado de emergência e a abertura da economia, em paralelo com o aproximar do verão, levantaram questões acerca dos festivais de verão, que foram reagendados para o ano de 2021, por aglomerarem demasiadas pessoas. A Festa do Avante, do PCP, irá realizar-se e vai receber cerca de cem mil visitantes, ao abrigo das regras da DGS, onde serão cumpridas as normas de distanciamento social e desinfeção. Este foi um dos assuntos que maior controvérsia gerou – no tema dos eventos cancelados ou não. A Festa do Avante foi considerada um “evento político” e irá mesmo acontecer, entre os dias 04 e 06 de setembro.
Desde março, que o assunto topo da agenda informativa tem sido o novo coronavírus. Com ele, passou a entrar no ‘nosso dicionário’ diversas palavras e expressões. Entre elas, aparecem, por exemplo: “aglomerados”, “ajuntamentos”, “distanciamento social” e “afastamento”. Todas estas, passaram a fazer parte de qualquer evento que se realiza, mas a forma como é definido o que é, ou não, risco público, tem sido uma questão dúbia. A não realização de Santos Populares, discotecas encerradas e festivais cancelados têm dado que falar.
Na região algarvia, existem também muitos exemplos do género. Um deles, foi o cancelamento da Concentração de Faro, que comemora este ano 39 anos ao serviço dos amantes de motas e, mais recentemente, o anúncio do “Noites F”.
Em Olhão há animação de rua e em Faro não
José Amaro, presidente do Moto Clube de Faro, disse ao POSTAL que concordou e entendeu o cancelamento da Concentração de Faro, mas deixou claro que não concordou “com o critério com que estão a fazer as coisas e fico apreensivo por isso”. Destaca diferentes critérios municípios e que “por exemplo, em Olhão há animação de rua e em Faro não”. José Amaro realça que “não fomos pressionados para cancelar a concentração, fomos nós, devido à falta de condições que existiam”. Ainda assim, o cancelamento de “pequenos eventos, principalmente durante a noite” deixaram o presidente do moto clube apreensivo quanto às “desigualdades”.
Questionado acerca da realização do “Noites F”, José Amaro assume que “não há má vontade, mas o critério está é mal ajustado”. No seu entender, “como cidadão e representante também de uma organização, concordo plenamente que se faça o Noites F”. No verso da moeda – como em qualquer debate – está Jaime Simões, empresário noturno e responsável pelo Castelo e Bar Património, que revela com precisão que “aquilo [o Noites F] não deveria ser permitido”.
Concorrência camarária: Bares e discotecas reféns da pandemia
Em causa, está o facto do “Noites F”, segundo o empresário, vão ser uma forma de concorrência aos bares, que para além de ‘fragilizados’ devido à pandemia, tem ordem de fecho mais cedo e vão ser afetados pelo evento. Tal como José Amaro, também o responsável pelo Castelo fala da cidade de Olhão, onde os músicos são valorizados e as ruas tem animação, respeitando as regras da DGS. “Aqui [Faro] são apenas interesses. Alguém vai ganhar dinheiro”.
Jaime Simões afirma ainda que “a Câmara Municipal de Faro não me autorizou a fazer eventos aqui na ‘minha casa’ e depois vão fazer. Ainda se fosse gratuito, agora a fazer concorrência. A câmara precisa mais de faturar que nós [empresários da noite/comerciantes]?”.
Da Câmara Municipal de Faro, o vice-presidente Paulo Santos explicou ao POSTAL que o “Noites F” em nada tem a ver com o Festival F. O evento tem capacidade para acolher 937 pessoas, que estarão sentadas mediante um distanciamento de 1,5 metros e com uso obrigatório de máscara. Para além disso, será feito controlo de temperatura à entrada do evento. O recinto “será dividido em quatro setores de 250 lugares cada um, com a saída organizada em fila com o devido distanciamento”. A PSP controlará o cumprimento das medidas.
Saber manter o ‘barco’ estável e perceber a cada dia como se move a pandemia
Paulo Santos explica, acerca do cancelamento da Concentração de Motas, que o evento foi cancelado pelos próprios e que em nada a câmara tem a ver com isso, uma vez que “foi a PSP e a GNR que deram parecer negativo ao desfile”. O vice-presidente recorda a norma da DGS, que diz que “nenhum evento pode acontecer sem controlo efetivo dos assistentes”. Ou seja, eventos em que sejam impossível controlar aglomerações, não podem acontecer. A animação de rua é mencionada como algo que Faro “gostava de fazer, mas as direções da DGS não permitem fazer”.
Sobre a questão dos bares e discotecas, Paulo Santos afirma que, pessoalmente, “se há algum sítio onde eu me sinto seguro e as pessoas se sentem seguras, é quando vão aos restaurantes e cafés”. A decisão do Governo, que, recentemente, revelou que bares e discotecas podem reabrir como pastelarias e cafés, “deve ser revista”. A questão de ajuntamentos ilegais “pode ser uma consequência da ‘bola de neve’ do encerramento destes estabelecimentos, pois as pessoas acabam por arranjar forma de estarem em contacto”, salienta Paulo Santos.
Sobre as pistas de dança, reflete o vice-presidente da autarquia farense que seria realmente difícil mantê-las, devido à pandemia. Contudo, “a questão dos horários dos bares é relativa, mas não sou especialista em saúde”. O autarca mostra-se preocupado com o estado da economia, principalmente da região algarvia.
Neste momento, a questão central é manter o ‘barco’ estável e perceber a cada dia como se move a pandemia e como esta pode ser contornada, para manter abertos estabelecimentos noturnos e encontrar uma solução para o cancelamento de eventos.