Evaristo Marinho foi acusado do crime de homicídio qualificado de Bruno Candé, ocorrido a 25 de junho de 2020, agravado por ódio racial.
O despacho afirma que o homem agiu com a intenção de matar Bruno Candé e dirigiu expressões nas quais se “referiu em concreto à cor da sua pele”, afirma o Público, que teve acesso aos documentos.
O ator foi assassinado em pleno dia, na Avenida de Moscavide, em Lisboa. Discussões acerca da cadela de Bruno Candé estiveram na origem do conflito, onde, dias depois, começaram os insultos racistas: “Preto, vai para a tua terra!” e “volta para a senzala!”. Numa fase posterior, iniciaram-se as ameaças: “Tenho armas do Ultramar em casa e vou-te matar”. Evaristo Martinho acabou mesmo por concretizar o crime.
O culpado combateu em Angola entre outubro de 1966 e setembro de 1968. No despacho de acusação que o Público revela, ficou provado que o ex-militar agiu com a intenção de matar Bruno Candé a 25 de julho e dirigiu expressões nas quais se “referiu em concreto à cor da sua pele”.
O homicídio foi agravado pelo artigo 131.º e 132.º do Código Penal, nomeadamente pelo facto de ter sido “determinado por ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela identidade de género da vítima”.
Ficaram provadas as expressões proferidas por Evaristo Marinho: “Vai para a tua terra, preto!”, “Tens toda a família na senzala e devias também lá estar”, “Fui à c*** da tua mãe e daquelas pretas todas! Eu violei lá a tua mãe”, “Anda cá que levas com a bengala, preto de merda”.
CHEGA AFIRMOU QUE ASSASSINATO DO ATOR NÃO FOI PROVOCADO PELO RACISMO
Na altura da ocorrência do crime, a direção nacional do Chega sustentou que a morte do ator Bruno Candé é uma tragédia sem relação com o racismo e acusou a esquerda de aproveitamento destes casos.
Numa nota enviada aos órgãos de comunicação social, o partido liderado pelo atual candidato às Presidenciais 2021, André Ventura, reiterou a ideia de que “a sociedade portuguesa não é racista” e considerou “que o aproveitamento político que a esquerda faz destes episódios é deplorável”.
“Portugal é o país menos racista da Europa, talvez do mundo, pelo que só nos resta transmitir à família e amigos de Bruno Candé sentimentos de solidariedade e conforto”, acrescentou a direção nacional do Chega, nesta curta nota, com três parágrafos.
A família de Bruno Candé referiu após a perda que o ator “foi alvejado à queima-roupa, com quatro tiros, na rua principal de Moscavide”, no concelho de Loures, distrito de Lisboa, e que “o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas”.
Face a esta circunstância”, a família considerou que “fica evidente o caráter premeditado e racista deste crime” e exigiu que “a justiça seja feita de forma célere e rigorosa”.
Bruno Candé Marques era ator da companhia de teatro Casa Conveniente desde 2010, tendo participado em telenovelas como “A Única Mulher”, em 2015.
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