Leio de vez em quando opiniões sobre o ir ou não votar, na minha opinião, a maior parte apresenta argumentos falaciosos sempre no sentido de manter a pouca vergonha política na gestão dos bens do país.
É dito vulgarmente que não ir votar é uma falta de civismo, penso que uma falta de civismo é manter e perpetuar no poder uma classe política que actua como “os saqueadores da arca perdida” que dão migalhas aos pobres para estes os manterem no poder. Não são os não votantes que definem e estabelecem as más políticas no país.
As crises políticas, sociais e económicas serviram sempre para mudar a situação vigente até aí, umas vezes para melhor outras vezes nem tanto. Entendo que uma das formas de luta política passiva que os eleitores têm é não votar, se por hipótese ninguém for votar, todo o sistema político tem que mudar. Claro que tal hipótese nunca acontecerá e prevalecerá sempre o conjunto de votos validamente expressos, nenhum partido político está interessado em tornar inválidas as eleições com mais de cinquenta por cento de abstenção, assim continuam a manter uma certa corja de ‘sanguessugas’ incompetentes nos órgãos de decisão.
A minha experiência de vida levou-me a decidir que:
Não voto numa classe privilegiada a seu bel-prazer, que tem vergonha que o Povo conheça as suas mordomias,
Não voto numa democracia apenas formal,
Não voto porque o sistema político está estruturado para os partidos serem donos e senhores do país,
Não voto num sistema político onde só há condenações efectivas para os pobres, para os ricos e políticos raramente acontece e quando acontece é de forma ligeira,
Não voto em profissionais da política que só pretendem ter ordenados cada vez maiores e que enriquecem não se sabe como,
Não voto porque tudo serve para negociatas e peculato,
Não voto em quem tem vários carros e condutores pagos pelos impostos de todos aqueles que não têm o suficiente para comer, enquanto em outros países mais ricos os altos dignitários vão a pé ou de bicicleta para os seus gabinetes,
Não voto em quem tem subsídios e ajudas de custos para quase tudo,
Não voto porque ainda não vi e parece não haver ninguém que queira acabar com a corrupção,
Não voto em pessoas que medem a dignificação por aquilo que ganham e não pela sua competência e por aquilo que fazem,
Não voto porque os partidos só cumprem as promessas eleitorais que lhes convém,
Não voto porque as reuniões de trabalho dos altos dignitários mais parecem reuniões familiares,
Não voto para haver apenas rotação de lugares sempre pelas mesmas pessoas,
Não voto em partidos que têm dividas de milhões de euros, se não sabem gerir as suas próprias contas também não sabem gerir o país,
Não voto em quem é deputado e ao mesmo tempo trabalha numa empresa,
Não voto numa classe que não quer fazer reformas na saúde, na educação e na justiça, e que apenas se entretém com as pequeninas coisas do dia a dia,
Não voto numa classe incompetente e indigna da minha confiança,
Não voto, ponto final.
Antigamente viveu-se na miséria económica, hoje vive-se numa auréola perfumada assente numa miséria social que desliza para a miséria económica, a qual servirá para engordar ainda mais uma minoria que parece decadente.