Atordoamento elétrico e (enquanto o sector se adapta a métodos mais inovadores) imersão em gelo a bordo dos barcos são os métodos sugeridos por um conjunto de investigadores internacionais para que o abate de peixes na pesca provoque menos sofrimento aos animais.
No relatório, os especialistas apelam “aos políticos, aos organismos de certificação, à indústria e aos retalhistas que levem a sério os conselhos sobre a redução do sofrimento dos peixes e ajudem a implementar normas de bem-estar animal nas pescas”.
O trabalho realizado em colaboração com barcos de pesca comerciais, por investigadores do Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR), revelou que “a utilização de gelo é melhor do que o armazenamento em contentores vazios”. Embora não possa ser considerado um método de atordoamento, “os peixes perdem vitalidade mais rapidamente em gelo do que sem ele”.
Enquanto não existem soluções rápidas mais viáveis, o gelo poderá ser um passo transitório para reduzir o tempo até à morte do peixe e aumentar a sua qualidade.
Os especialistas sublinham que “os peixes sofreriam ainda menos se fossem, pelo menos, tornadosinconscientes antes do armazenamento e, depois, a água gelada e o gelo acabariam por causar a morte. Atualmente, o sector das pescas ainda não utiliza praticamente nenhum método de atordoamento e abate”.
As medidas propostas permitem, ainda, obter “a melhor qualidade possível da carne, o que constitui uma motivação suplementar para o sector”. Será, no entanto, necessária “mais investigação e inovação para validar e implementar estes (ou outros) métodos atordoamento e o abate”.
O relatório, elaborado pelo projeto Carefish/Catch e composto por investigadores da Fair-Fish (Suíça), do CCMAR (Portugal), do Fish Etho Group (Portugal), do Friend of the Sea (Itália) e do Instituto DeMoS (França) debruça-se sobre a pesca com redes de cerco, utilizada para capturar peixes de cardume, como a sardinha, a cavala e o atum.
Durante o processo de pesca, os peixes são cercados e a rede é fechada por baixo, os peixes capturados e içados para bordo do navio com redes, em alguns casos, bombeados para bordo.
Os métodos de atordoamento adequados para a pesca com redes de cerco poderão incluir o atordoamento elétrico, em que o peixe é atordoado dentro ou fora de água.
O abate deve ser efetuado enquanto o animal está inconsciente, antes da triagem, por imersão em água gelada (morte por hipotermia) ou armazenamento em gelo (morte por asfixia e hipotermia). Quanto mais tempo os peixes permanecerem na rede, maior será o stress e maior será o risco de se ferirem, morrerem de exaustão ou sufocarem.
O principal objetivo do projeto Carefish/catch é promover normas de pesca mais eficiente e cada parceiro é responsável pela sua tarefa:
- Fair-fish (Suíça) gere a base de dados fair-fish, que reúne a informação sofre o sofrimento dos animais causado por vários métodos de pesca e possíveis melhorias.
- CCMAR (Portugal) efectua avaliações do estado dos peixes capturados por diferentes métodos de pesca e trabalha a bordo dos navios para avaliar o estado e a vitalidade de diferentes espécies de peixes e medir o seu stress.
- FishEthoGroup (Portugal) desenvolve normas de bem-estar animal para pescarias certificadas.
- Friend of the Sea (Itália) incluirá estas normas no seu próprio programa de certificação das pescas.
- O Instituto DeMoS (França) avalia o impacto destas medidas no sector das pescas e nos consumidores.
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