No coração da indústria conserveira portuguesa, o atum destaca-se como o protagonista indiscutível. Dados recentes da Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP) revelam que esta conserva não só lidera a produção nacional, representando quase metade do setor, como também domina as exportações e importações do país.
Produção em alta
Em 2022, a produção nacional de conservas de peixe atingiu 468 milhões de euros, com um volume de 80.000 toneladas, marcando um crescimento de 28% em valor e 25% em quantidade face a 2021. Destes números, o atum é responsável por 209 milhões de euros, ou 45% do total do setor, reafirmando a sua posição como a conserva mais relevante no mercado.
Ainda que sardinhas, crustáceos e moluscos desempenhem um papel importante, o atum mantém-se como o motor da indústria, um estatuto que é também sublinhado no Dia Nacional das Conservas, celebrado em reconhecimento da importância histórica e económica deste setor para Portugal.
Exportações impulsionadas pelo atum
A dimensão internacional do setor é evidente: 60% da produção nacional é destinada à exportação, gerando 334 milhões de euros em 2023, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Espanha e França lideram como principais mercados de destino, representando 29% e 24% do volume exportado, respetivamente.
O atum, em particular, é o produto mais exportado, com 40% do total, sendo que quase metade (48%) segue para o mercado espanhol. Os EUA destacam-se pelo elevado preço médio das conservas (9,1 euros/kg), seguidos de Itália (8,5 euros/kg), sinalizando a perceção de qualidade das conservas portuguesas em mercados de alto valor.
Importações: Uma realidade complementar
Apesar da robustez da produção nacional, Portugal continua a importar conservas, especialmente de atum. Em 2022, as importações somaram 289 milhões de euros, equivalentes a 67.000 toneladas, representando um aumento de 8% em valor e 6% em quantidade. Espanha, mais uma vez, lidera como fornecedor, responsável por 59% das importações.
Desafios e iniciativas
A par dos números impressionantes, o setor enfrenta desafios significativos. Entre eles, a dificuldade crescente na contratação de mão-de-obra local. Para mitigar esta situação, as conserveiras têm investido na melhoria das condições laborais, incluindo a implementação de um programa de bolsas de estudo, lançado em 2024, destinado a familiares de trabalhadores com baixos rendimentos.
O setor emprega diretamente 3.500 pessoas, das quais 90% são mulheres, reforçando a sua relevância social.
Um património com história
Com 36 espécies de peixe em conserva e mais de 800 referências, a indústria conserveira portuguesa combina inovação e tradição, com raízes que remontam ao século XIX. O Dia Nacional das Conservas de Peixe celebra precisamente esse legado, recordando que a data coincide com a distinção de uma conserveira portuguesa na Exposição Universal de Paris de 1855.
Em Portugal, o atum é mais do que um produto enlatado. É um símbolo da resiliência e adaptabilidade de uma indústria que continua a evoluir, sem esquecer as suas tradições.
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