Aumentar o número de respostas sociais disponíveis para os são-brasenses, respondendo a novas necessidades e ao mesmo tempo solidificar as respostas em curso são as grandes metas a que se propõem.
O Museu do Traje é o orgulho da instituição. Para Júlio Pereira é fundamental para a Misericórdia e para o concelho: desenvolve a função cultural da instituição ao mesmo tempo que as suas atividades são socialmente relevantes para a comunidade. O futuro do Museu, que está assegurado, é visto “com esperança e com muitos projetos no horizonte!”.
O sonho do Provedor da Santa Casa da Misericórdia de São Brás é o mesmo da sua equipa, “continuarmos a servir quem mais precisa, os mais necessitados, os que não tem família e os que precisam de nós todos os dias, quer sejam utentes ou colaboradores”.
P – É um dos Provedores mais jovens do país. Como tem sido ocupar este cargo?
R – Efetivamente faço parte de um grupo de Provedores mais jovens, no entanto, já somos bastantes e há alguns mais jovens do que eu. As Misericórdias têm vindo a renovar-se a um ritmo interessante, e cada vez mais temos Mesas Administrativas constituídas por irmãos mais jovens e muito capazes de abraçar novos desafios. No Algarve temos bons exemplos de juventude e dinamismo.
Não sei se alguma vez as funções de Provedor foram um cargo, talvez. Para mim, são uma missão com múltiplos desafios e inúmeras responsabilidades. A nossa Misericórdia tem ao seu cuidado mais de 420 utentes, 120 colaboradores (in)diretos, tem organizadas 13 respostas sociais, um património significativo ao serviço dos diversos equipamentos sociais, um desafio diário para dar resposta às necessidades da comunidade e ao mesmo tempo a um conjunto de regras, normas e desafios como qualquer outra entidade. É preciso muito trabalho, empenho e esforço para assegurar o futuro, dignificando o presente.
P – Que apostas tem para o futuro enquanto Provedor?
R – As apostas são muitas e difíceis de sintetizar. Pretendemos aumentar o número de respostas sociais disponíveis para os são-brasenses, respondendo a novas necessidades e ao mesmo tempo solidificar as respostas em curso. As principais apostas traduzem-se em concluir a Obra de Ampliação e Remodelação do Edifício da Estrutura Residencial para Pessoas Idosas, estimada em 2,3 milhões de euros, que está em curso com o apoio do PT2020, do Fundo Rainha D. Leonor e do Município de São Brás de Alportel, concretizar outras remodelações necessárias nos diversos equipamentos sociais e reabilitar um conjunto de habitações devolutas para reforço do parque habitacional a custos acessíveis, no âmbito da Estratégia Local de Habitação, em que estamos a trabalhar em parceria com o município, com recurso a financiamentos do PRR.
Queremos, em breve, abrir o Espaço Inclusão e no futuro apostar num Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão, num Lar Residencial ou mesmo numa Unidade de Cuidados Continuados, uma vez que são necessidades identificadas na comunidade e que ainda não estão cobertas no concelho e na região.
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O maior desafio foi enfrentar o medo generalizado e visível em quase todos
P – Há um ano, o Lar de Terceira Idade da Santa Casa da Misericórdia de São Brás, como o resto do país, estava a viver um momento difícil no âmbito da pandemia. Entre perdas e ensinamentos, qual foi o maior desafio que enfrentou?
R – O maior desafio foi o de enfrentar o medo generalizado e visível em quase todos, desde o início da pandemia. Este foi o sentimento comum e dominante nos familiares, utentes, colaboradores e nos diversos intervenientes. O medo foi e é um sentimento normal e natural quando se enfrenta o desconhecido, quando não se consegue ter controlo sobre os acontecimentos ou mesmo quando se desconhecem as consequências de uma pandemia. Os utentes e os colaboradores passaram e passam momentos de angústia e de sofrimento que foi preciso apoiar e aliviar com proximidade, partilha e solidariedade. Foram desafios intensos, com entrega total em dias contínuos, semanas sem fim e meses sem conta.
Podemos dizer que nada faltou aos utentes, que conseguimos responder a novas necessidades e às vítimas da pandemia. Criamos o apoio COmVIDa e o apoio +felicIDADE, reforçámos a equipa de colaboradores e conseguimos equilibrar orçamentos familiares deficitários.
Concluímos que os colaboradores souberam enfrentar o medo respondendo a todos os desafios com brio, dedicação e entrega muito fora do normal. Constatamos que constituímos uma fantástica equipa.
P – Para além de superar esta pandemia, que ainda é uma realidade, quais são os maiores desafios da Misericórdia de São Brás de Alportel?
R – Os desafios são os de continuar a sonhar com um futuro, melhor e com novos projetos no horizonte para implementar. Para aproveitar os recursos do novo quadro comunitário de apoio e do Plano de Recuperação e Resiliência, é necessário correr atrás de candidaturas e lutar pela concretização desses mesmos sonhos. A pandemia assomou-se surpreendentemente, condicionou as nossas ações, mas também está a criar novas oportunidades e desafios para o setor social que são consequência logica desta realidade. É preciso considerar seriamente estes desafios.
A Misericórdia de São Brás de Alportel não esgota o seu trabalho na área social, também tem trabalho na área cultural, sendo proprietária de um museu etnográfico, o Museu do Traje. O que significa este Museu para a Misericórdia?
O Museu do Traje é o nosso orgulho. É fundamental para a Misericórdia e para o concelho, desenvolve a função cultural da nossa instituição ao mesmo tempo que as suas atividades são socialmente relevantes para a comunidade. Em boa hora a Misericórdia de São Brás de Alportel empenhou-se em erguer e desenvolver um Museu. Embora o Museu disponha apenas do apoio direto e mensal do Município, temos conseguido garantir o desenvolvimento deste projeto com recursos próprios e com os apoios pontuais de alguns organismos para investimentos específicos. A prova disso mesmo é o projeto Um Museu para Todos que temos em fase de conclusão, com o apoio do Turismo de Portugal, e que irá permitir que o nosso Museu acolha, ainda melhor, todos os públicos independentemente das suas limitações e dificuldades. Um investimento perto dos 150 mil euros, que consideramos uma aposta prioritária.
Sendo a gestão deste tipo de equipamentos um desafio exigente, como vê o futuro do Museu do Traje?
Com esperança e com muitos projetos no horizonte! O futuro do Museu está assegurado. Compreendo a profundidade da sua questão, que só faz sentido pelo que se foi escrevendo e criando à volta do Museu, por isso reafirmo que nunca foi sequer equacionado o futuro do Museu. Nunca. Aliás, quem perdeu tempo a alimentar artigos de opinião não desempenhou bem as suas funções, nem esteve preocupado com o futuro do Museu, esse é assegurado com trabalho e dedicação. Os desafios, embora sejam próprios e particulares de um Museu, não são diferentes nem maiores do que outros das restantes respostas sociais da instituição.
P – Qual o balanço que faz até agora do seu mandato?
R – Não serei eu a pessoa mais indicada para fazer um balanço dos mandatos. Posso dizer que me esforço para que os Sócios/Irmãos acompanhem de perto a atividade da Misericórdia, para além da preocupação de apresentar Planos de Atividades e Relatórios detalhados sobre toda a atividade desenvolvida, que demonstram o rigor e a transparência que pautam a atuação da Mesa Administrativa. Devo dizer que represento uma equipa de sete irmãos, cinco efetivos e dois suplentes, que administram a Instituição e que se têm esforçado diariamente para disponibilizar, aos nossos utentes mais necessitados, toda a dignidade que merecem, com serviços de qualidade. Também, e em nome de todos, posso afirmar que crescemos em número de utentes que servimos, em número de colaboradores ao serviço da instituição, em parcerias, em orçamento, em património, em financiamentos obtidos através de candidaturas a fundos comunitários, aliás, está em curso a maior obra de sempre, entre outros indicadores importantes, e que temos grandes sonhos para o futuro.
P – Qual o seu maior sonho enquanto cidadão e enquanto Provedor?
R – Enquanto Provedor represento uma equipa e como tal o meu sonho é o da minha equipa, que é continuarmos a servir quem mais precisa, os mais necessitados, os que não tem família, os que precisam de nós todos os dias, quer sejam utentes ou colaboradores. No entanto, gostaríamos de continuar a construir uma Misericórdia ainda melhor, mais humana, mais solidária, mais próxima e com mais respostas sociais para mais utentes, em parceria com colaboradores felizes e realizados profissionalmente.