O grupo de nove empresários da restauração e discotecas que cumpre hoje o terceiro dia de greve de fome garantiu que só sai da frente da Assembleia da República quando o Governo apresentar uma solução, ou então “de ambulância”.
Lisboa amanheceu com frio e chuva, mas, em frente à Assembleia da República, um grupo de nove empresários da restauração e discotecas, setores afetados pela pandemia de covid-19 e pelas medidas adotadas para a conter, continua acampado, numas instalações improvisadas com tendas e aquecedores, em greve de fome até que o Governo os receba para encontrarem soluções para os seus negócios, que dizem estar a ir à ruína.
“Só saímos daqui com uma intervenção do Estado ou de ambulância, de resto eu não vou sair daqui, ninguém sai daqui”, garantiu à Lusa João Sotto Maior, empresário da restauração, que disse estar em representação daqueles setores, que “estão, literalmente, a pão e água”.
“Estamos a ser ignorados, estamos a passar fome, frio, ontem [sábado] às cinco da manhã caiu aqui uma trovoada enorme. É uma falta de respeito para com todos estes privados que fizeram investimentos a vida inteira”, apontou o empresário, sublinhando que neste momento há restaurantes familiares que não têm como sobreviver.
O grupo, composto por oito homens e uma mulher, vai sendo saudado por pessoas que passam pelo acampamento montado em São Bento e que lhes deixam garrafões de água e chá, bem como palavras de força e de agradecimento por estarem a lutar pelos setores da restauração, discotecas e bares, cultura, eventos, alojamento e táxis.
“Eu só quero sair daqui”, disse, comovido, João Sotto Maior.
O ativista José Gouveia deixou ontem um vídeo testemunhando o objetivo da causa dizendo: “Passem por cá e mostrem a vossa solidariedade. Até já!”
Também a participar no protesto está o porta-voz do movimento Sobreviver a Pão e Água, José Gouveia, que disse à Lusa que recebem mensagens diariamente de pessoas que estão a fechar os seus negócios.
“Neste momento, a economia está em colapso, daqui a um mês estamos a falar de mais 110 mil trabalhadores que vão ser despedidos”, apontou José Gouveia.
“Nós aqui estamos por opção a fazer greve de fome, amanhã, o mais certo, é haver pessoas a fazer greve de fome porque não têm o que comer”, lamentou.
Na quarta-feira, aquele movimento organizou uma manifestação, também em frente à Assembleia da República, que juntou várias centenas de pessoas que pediam ao Governo que as deixe trabalhar, ou, não havendo essa possibilidade, apoios a fundo perdido para fazerem face às suas despesas.
Entre elas estava Alberto Cabral, empresário da noite, em representação das discotecas do Norte do país, que já não voltou a Vila Real, de onde saiu naquela manhã.
“Sabemos que não temos condições para abrir as discotecas, mas precisamos de apoio, porque estamos há nove meses sem um euro que seja de apoio, portanto decidimos agora, depois desta manifestação, entrar em greve de fome. Eu já vim de Vila Real com essa ideia, eu já não quis voltar para Vila Real sem ter algo que me diga que eu vou ter um Natal digno de um português”, afirmou o empresário.
Para Alberto Cabral, o setor precisa urgentemente de apoios a fundo perdido, porque está descapitalizado, depois de vários meses sem receitas.
“Quando [o primeiro-ministro] António Costa fala que está a fazer estes dois fins de semana de confinamento para preparar o Natal, eu pergunto-lhe qual é o Natal que ele está a preparar para os donos das discotecas e para os DJ também, qual será o nosso Natal que ele está a preparar, porque nós estamos sem dinheiro mesmo”, lamentou.
O movimento Sobreviver a Pão e Água endereçou, em 16 de novembro, um pedido de audiência ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ao primeiro-ministro, António Costa, e ao ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira.
Dos três pedidos enviados, apenas o ’email’ dirigido ao Gabinete da Presidência obteve resposta, tendo-se concretizado, na sexta-feira, uma audiência com os representantes do movimento, Ljubomir Stanisic, José Gouveia e Manuel Salema.
O Governo anunciou, na semana passada, as medidas de contenção da pandemia da covid-19 para o novo período de estado de emergência: nas vésperas dos feriados, o comércio encerra a partir das 15:00 em 127 concelhos do continente classificados como de risco “extremamente elevado” e “muito elevado” e mantêm-se os horários de encerramento do comércio às 22:00 e dos restaurantes e equipamentos culturais às 22:30 nestes concelhos e em mais outros 86 considerados de “risco elevado”.
No dia 14 deste mês, o ministro da Economia disse que o apoio excecional aos restaurantes dos concelhos abrangidos pelo estado de emergência para os compensar pela receita perdida nestes dois fins de semana acenderá a 25 milhões de euros e será pago em dezembro.
Os dados avançados pelo ministro indicam que dos 750 milhões de euros contemplados no programa Apoiar.pt – apoio a fundo perdido destinado a micro e pequenas empresas dos setores mais afetados pela crise com quebras de faturação superiores a 25% -, 200 milhões de euros serão absorvidos pelo setor da restauração.
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