A velha EDP Distribuição passou à história e a partir de agora tudo o que tenha a ver com as leituras dos consumos de eletricidade ou reparação de avarias na rede de distribuição em Portugal continental passa a ser tratado pela E-Redes. A empresa é a mesma e os funcionários também, mas muda a marca e a designação societária, de forma a pôr termo a eventuais confusões com o negócio de comercialização do grupo EDP, operado pela EDP Comercial.
No momento da mudança, o Expresso falou com o presidente da empresa, João Torres, que revelou que mesmo em contexto de pandemia foi possível implementar um muito esperado avanço: massificar o acesso dos consumidores de eletricidade aos seus dados de consumo, em tempo real, nas plataformas digitais do distribuidor.
No final do ano passado, a EDP Distribuição (agora E-Redes) criou uma funcionalidade que permite ao consumidor consultar em suporte digital o seu consumo de 15 em 15 minutos, e assim conhecer melhor o seu perfil de consumo. Com mais informação, o consumidor poderá saber quanto gasta nos vários períodos horários, se lhe compensa uma tarifa bi-horária e ficar mais sensibilizado para a importância da eficiência energética e da rotulagem dos equipamentos.
De acordo com o presidente da empresa, essas leituras em tempo real já cobrem um milhão de clientes domésticos (todos os consumidores empresariais já têm essa telecontagem) e o objetivo para este ano é elevar essa cobertura para 2,5 milhões de famílias. Para tal, é preciso a E-Redes reforçar a capacidade de processamento dos dados. “Estamos a dar passos seguros”, explica.
Este ano, a E-Redes deverá instalar mais 620 mil contadores inteligentes, a somar aos 3,2 milhões atuais
Atualmente, 51% dos mais de seis milhões de clientes de eletricidade têm contadores inteligentes, isto é, que comunicam de forma remota as suas leituras para o distribuidor de eletricidade. São 3,2 milhões de casas com os equipamentos digitais. E a programação para este ano levará a E-Redes a instalar mais 620 mil equipamentos de medição inteligente. O país deverá estar totalmente coberto com estes modernos contadores em 2024, dois anos antes do prazo inicialmente previsto.
João Torres diz que a instalação de contadores inteligentes “está a correr bastante bem” e que nos inquéritos de satisfação feitos após as instalações a empresa tem obtido uma pontuação média de 8,4 em 10. De acordo com o presidente da E-Redes, a substituição de equipamentos tem sido feita de forma dispersa pelo território. “Instalámos de norte a sul do país, e dos sete distritos que estão acima da média de 51% de cobertura quatro são do interior”, explica.
Para o gestor, esta digitalização é crucial, não só para melhorar a gestão da rede e monitorização da procura e da oferta, mas também para beneficiar o consumidor. “Não basta dizer que o consumidor está no centro da transição energética e depois não lhe dar informação para decidir”, realça.
Este ano, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) deverá promover uma revisão dos parâmetros regulatórios do sector elétrico para vigorar de 2022 a 2024, e a E-Redes antecipa desde já uma reivindicação: aumentar a taxa de remuneração regulada do distribuidor de eletricidade.
“A NOSA REMUNERAÇÃO É DAS MAIS BAIXAS DA EUROPA”
“A taxa de remuneração dos ativos da EDP Distribuição [4,9%] é das mais baixas da Europa. E ainda temos a CESE [contribuição extraordinária sobre o sector energético] a incidir sobre os resultados da empresa. É preciso olhar para esta nossa taxa, que é inferior à de Espanha (6%) e de Itália (5,9%). Isso é fundamental quando temos de olhar para planos de investimento a longo prazo”, argumenta João Torres, que já trabalhou na EDP Distribuição com remunerações reguladas de 10,5%. “É nas comparações com os pares europeus que entendemos que não estamos a ser bem tratados”, acrescenta.
Mas é importante notar que qualquer revisão em alta das receitas da E-Redes acabará por ser paga pelo consumidor de eletricidade. Com uma base regulada de ativos de quase €3 mil milhões, uma subida de um ponto percentual na taxa de remuneração da empresa implicaria um custo acrescido para o sistema elétrico (leia-se, para o consumidor) próximo dos €30 milhões por ano (mais €5 anuais por família).
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João Torres defende a justiça de uma revisão em alta da remuneração da E-Redes com o esforço de eficiência já feito pela empresa. Segundo o responsável, a agora denominada E-Redes reduziu os proveitos anuais por cliente de €109 em 2006 para €66 atualmente. E com isso também baixou o peso da distribuição de eletricidade na fatura da luz, rondando agora os 16% (o resto é o custo de produção da eletricidade, o seu transporte na rede da REN e os vários custos de política energética em vigor).
NOVA MARCA SEM CUSTO ACRESCIDO
João Torres assegura que a mudança de marca para E-Redes foi conseguida com “neutralidade de custos”. Isto é, a empresa canalizou para a nova marca despesas que estavam previstas para outras áreas. E será por isso que os encargos desta mudança, próximos dos €2 milhões, não vão agravar a fatura da luz dos portugueses.
Os 23 pontos de atendimento físico da EDP Distribuição reabrirão segunda-feira com a imagem da E-Redes e todas as cartas e correspondência com os consumidores passam a ter a nova marca, bem como as plataformas digitais. Para evitar comprar novas fardas de imediato, a empresa adquiriu coletes para quem está no terreno (cerca de metade dos três mil funcionários). E para câmaras municipais, juntas de freguesia e outros interlocutores seguiram 20 mil brochuras, para divulgar a nova marca e tentar que ela chegue às comunidades locais sem que os consumidores estranhem que lhes batam à porta técnicos com a nova marca amarela da E-Redes, em vez do tradicional e encarnado logótipo da EDP Distribuição.A mudança de marca acontece por imposição do regulador (de forma a separar claramente as atividades de distribuição e comercialização) e dá-se num ano em que estão a ser preparados concursos para a operação das redes de baixa tensão. João Torres diz ao Expresso que a EDP quer concorrer e continuar a ser a concessionária da distribuição de eletricidade em Portugal, estando a seguir o dossiê “muito atentamente”.
TRÊS PERGUNTAS a João Torres, presidente da E-Redes
Quais foram os maiores desafios no processo da mudança de marca?
Preparámos o plano em outubro, recebemos o acordo da entidade reguladora e o maior desafio foi conseguir implementar num contexto de pandemia, com muitas limitações, aquilo que tínhamos prometido fazer acontecer no dia 29 de janeiro. Tudo o que fosse visibilidade externa tinha de estar alterado nesta data. Além das equipas da EDP, tivemos dezenas de empresas externas [a colaborar], que corresponderam de forma excecional.
O que é que muda já e o que é que só vai mudar mais tarde?
O que vai já mudar é o que tem mais impacto. Todas as cartas e documentos que saem da EDP Distribuição são alteradas e aparece a E-Redes. O site e a app também estarão alterados. Também o contact center, para os operadores passarem a atender como E-Redes. Os 23 postos de atendimento terão um novo visual quando reabrirem na segunda-feira. Onde fomos mais moderados foi na adaptação do fardamento, porque tínhamos um stock relevante de fardamentos EDP Distribuição e vamos usar uns coletes [com a identificação E-Redes] que adquirimos para o efeito. Na frota, algumas viaturas já estão identificadas como E-Redes, mas não vamos identificar viaturas que vamos substituir no final do ano.
Qual foi o custo desta mudança de marca?
Se fosse feita sem fazermos a revisão dos outros custos ia para próximo de €2 milhões. A verdade é que fizemos uma revisão dos nossos custos para fazer uma implementação suave que permita a neutralidade de custos pedida pela ERSE. Algumas campanhas nos media que tínhamos associadas à vegetação, à app e à qualidade de serviço foram redirecionadas para a nova marca. Vamos cumprir o requisito da neutralidade de custos.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso