Intitulam-se “os jovens mais aventureiros do Algarve” e têm o sonho de conhecer todos os países do mundo. Bruno Barbosa tem 32 anos e trabalha no Aeroporto de Faro e Fábio Barbosa tem 35 e atualmente apanha marisco na Ria Formosa.
O desejo de viajar nasceu com eles e foi alimentado ao longo da vida. Os primos consideram-se irmãos, pela proximidade que sempre tiveram e pelo desejo de conhecer todos os países do mundo. Com pouco mais de três décadas de vida, já visitaram 60 países de mochila às costas. A forma como falam das viagens que fizeram mostra o entusiasmo e reflete um conjunto de experiências que já tiveram. Essas experiências não cabem numa entrevista (talvez num livro), mas vamos à mais recente, que tem como destino final Santiago de Compostela (Espanha).
Este ano, marcado pela pandemia do novo coronavírus, que surgiu em março em Portugal, os primos viram as viagens serem canceladas numa primeira fase e condicionadas noutra, sendo que a situação de sair do país não é ainda fácil, devido às restrições de quarentena que se impõem em alguns. Contudo, a vontade de viajar continuava e, segundo Bruno e Fábio Barbosa, a “fome do mundo” estava a aumentar cada vez mais.
“A viagem foi planeada dois dias antes, não pensámos muito”
Devido ao despedimento de Bruno e à pausa de trabalho de Fábio Barbosa, os primos aproveitaram para colocar as “viagens em dia”. Mais uma vez, de mochila às costas, rumaram até Santiago de Compostela. O objetivo desta viagem seria enriquecer a sua cultura, espairecer dos tempos que estávamos a viver e ainda alimentar a sua vontade de conhecer outros locais.
Começaram na rotunda do Hospital de Faro, passaram por Vila Real de Santo António, Alentejo e seguiram pela linha de Espanha, passando por Bragança. Estiveram já na Serra da Estrela, aquando desta entrevista. O passo a seguir será apanhar a Estrada Nacional 2 e “chegar à bela cidade de Faro”, referem. No meio deste percurso, contam com um número reduzido de dinheiro, dormem na rua ou em pousadas e contam com a boa vontade de quem se cruza no seu caminho.
Ao longo destes dias de viagem, já tomaram banho no Rio Guadiana e no Tejo. Muitas das refeições são oferecidas por habitantes dos locais por onde passam. “As pessoas gostam de saber destas histórias e estão sempre prontas a ajudar”, explicam ao nosso jornal. Uma das histórias que destacam, aconteceu com um senhor, perto de Bragança, que os ajudou e lhes deu sopa. O mesmo senhor acabou depois por lhes indicar uma casa de campo de amigos, onde usufruíram de uma noite descansada, com acesso a lareira, vinho, entre outras coisas. São gestos simples, que fazem um viajante cansado ficar satisfeito e dar valor às pequenas coisas, como ter uma cama, um chuveiro e um fogão.
Ao longo desta viagem, que começou no dia 23 de novembro, os primos já apanharam chuva, neve e sol. Questionados sobre um momento de maior perigo que possa ter ocorrido, a resposta é clara: “Perigoso não tivemos nada. O único perigo era ficar a olhar para as paredes”.
“O único perigo era ficar a olhar para as paredes”
Mesmo em tempos de pandemia, viajar continua a ser algo essencial na vida de Bruno e Fábio Barbosa. “Não vemos notícias há duas semanas e, ao viajar, nem nos apercebemos que existe a pandemia”, refletem. Contudo, durante as viagens e contactos com pessoas, não deixam as regras da Direção-Geral de Saúde (DGS) de lado, tendo consciência de que podem ser uma fonte de transmissão do vírus e podem colocar a sua saúde em risco.
A chegada a Faro deverá acontecer até ao dia 21. Próximo do Natal, os primos não têm medo de passar a quadra a viajar, algo que, inclusive, já aconteceu. Para a sua família, o regresso deverá ser o grande presente de Natal.